As boas práticas de gestão corporativa, focadas na transparência empresarial e na obediência às leis, vem ganhando um espaço cada vez maior nos diversos segmentos do mercado brasileiro. Estudos recentes traduzem o foco de boa parte das empresas em investimentos em compliance, como é chamado esse comportamento. Na prática, isto significa muitas vezes mudanças profundas na cultura de gerenciamento dos negócios.
Um dos levantamentos mais recentes foi feito a partir da percepção de 113 empresas no país. A pesquisa Integridade Corporativa no Brasil: evolução do compliance e das boas práticas empresariais nos últimos anos, feita em 2022, aponta que 73% das empresas ouvidas planejam investir em treinamentos para adequarem-se a conformidades legais até o fim deste ano. O estudo foi desenvolvido pela Deloitte, uma das gigantes globais do setor de auditoria e consultoria empresarial e de gestão de riscos, tendo em vista o principal objetivo da implantação do programa de compliance: solucionar problemas do dia a dia, contribuindo para um ambiente corporativo seguro, em conformidade com as legislações, portanto, livre das práticas abusivas.
Por sinal, a segunda pesquisa também vem de outra megaempresa internacional do setor de auditorias. A Pesquisa Maturidade do Compliance no Brasil, do escritório da KPMG no país, foi publicada em 2020 a partir da análise de 55 empresas. De fato, ela comprova que a adoção de práticas de compliance ainda é desafiador. Para 85% das organizações entrevistadas, diz o estudo, um dos maiores desafios é identificar, avaliar e monitorar os aspectos que envolvem a mudança de postura, ao passo que 52% admitiram não ter um processo eficiente de due dilligence, ou seja, de investigação prévia antes de firmar um negócio com terceiros.
Por outro lado, 64% dos participantes já realizam algum tipo de Compliance, e 75% disseram que seus executivos apontam periodicamente para estratégias de governança, com foco em novas culturas organizacionais. “Esses estudos indicam, acima de tudo, que há mais do que uma preocupação, na verdade uma necessidade cada vez maior de uma empresa, qualquer que seja seu porte, de assumir um papel de protagonismo positivo na sociedade, seja com seus clientes, com seus colaboradores e fornecedores, seja com o órgão regulador ou legislação aplicável ao modelo de negócio”, afirma o advogado Ricardo Grossi, sócio do escritório Grossi & Bessa Advogados.
Segundo ele, existem motivos de sobra para adotar princípios legais na organização, inclusive em relação ao retorno. “Para quem não compreende bem ainda o horizonte do compliance, pode parecer óbvio e apenas uma obrigação respeitar as leis e regulamentações. Mas não se trata apenas disso. O foco é trabalhar rotineiramente para que a organização tenha atitudes responsáveis do ponto de vista social, fiscal e da ética. Como contrapartida, a empresa aumenta sua reputação, agrega novas oportunidades de negócios e ainda consegue reduzir riscos de corrupção e de fraudes.
Estratégia deve envolver especialistas
Para o advogado Matheus Bessa, sócio do escritório Grossi & Bessa Advogados, a adoção dessas políticas de transparência e respeito à legislação também muda o ambiente corporativo. Ele pontua que o resultado também envolve uma melhoria dos processos, elevando a eficiência, e uma preparação maior de toda a equipe pela construção e manutenção da integridade da empresa. “São muitas coisas que precisam ser colocadas em prática para que gestores e colaboradores caminhem juntos numa mesma sintonia. Não é fácil alcançar isso, pois envolve treinamentos e o conhecimento de regulamentos que antes não faziam parte da rotina do trabalho. Não é por acaso que o começo costuma ser a parte mais difícil”, revela.
Por toda a complexidade que envolve a adoção de medidas de compliance, ele adverte que a implementação dessas práticas seja conduzida por profissionais com expertise multidisciplinar no assunto. “Assim como existem determinados equipamentos que necessitam de capacitação para operá-las, o compliance exige uma consultoria especializada”, compara. “São estratégias em setores determinantes da empresa, como na esfera tributária, ambiental, financeira, trabalhista etc. Não é uma medida, uma mudança de postura. São muitas transformações, que inclusive conectam mais toda a equipe. Isso é muito mais do que somente apertar um botão”, finaliza.
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