CROSP faz alerta para a saúde bucal de pacientes com TEA

Durante o “Abril Azul”, são realizadas ações e campanhas com o objetivo de conscientizar e dar visibilidade ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com o intuito de ressaltar a importância do atendimento odontológico adequado e de qualidade aos pacientes com TEA, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) traz algumas informações e orientações relevantes, principalmente para os profissionais que desejam atuar nesta especialidade.             

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA), o Transtorno do Espectro Autista é classificado como um dos transtornos do neurodesenvolvimento, caracterizado pelas dificuldades de comunicação e interação social e também os comportamentos restritos, repetitivos e alterações sensoriais.

O atendimento odontológico direcionado ao paciente com Transtorno do Espectro Autista (TEA) deve levar em consideração os diferentes níveis que o caracterizam. A cirurgiã-dentista Dra. Adriana Zink, mestre em Ciências da Saúde, especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (OPNE) e membro da Câmara Técnica do CROSP,  explica que, dentro dos critérios diagnósticos do DSM-5 para o TEA, estão presentes os níveis de suporte, ou as necessidades de suporte, para as atividades de vida diária, sendo divididos em 3 níveis diferentes (nível 1, 2 e 3).

No nível 1 de suporte, em geral, estão as pessoas que lidam com dificuldades para manter e seguir normas sociais, apresentam comportamentos inflexíveis e dificuldade de interação social desde a infância. Podem ser mais difíceis de serem diagnosticados pelo masking, estratégia adotada por muitas pessoas com TEA desde a infância para evitarem bullying, sofrimento psicológico e estresse.

O nível 2 de suporte, por sua vez, compreende aqueles que apresentam comportamento social atípico, rigidez cognitiva, dificuldades de lidar com mudanças e hiperfoco (interesse intenso por determinados objetos, pessoas ou temas). Nesse nível do espectro, o autista demonstra déficits marcantes na conversação, com respostas reduzidas ou consideradas atípicas. As dificuldades de linguagem são aparentes, mesmo quando a pessoa tem algum suporte e a sua iniciativa para interagir com os outros é limitada.

No nível 3 de suporte estão os casos nos quais os indivíduos têm mais dificuldades no seu cotidiano e déficit severo de comunicação, com uma resposta mínima a interações com outras pessoas e a iniciativa própria de conversar muito limitada. Também podem adotar comportamentos repetitivos, como bater o corpo contra uma superfície ou girar, e apresentar grande estresse ao serem solicitados a mudar de tarefa.

Conhecer para tratar 

Segundo a Dra. Adriana, os três níveis do TEA necessitam de terapias adequadas e específicas. Ela explica que o plano de tratamento odontológico será de acordo com a necessidade individual e que, durante o mesmo, poderão ser utilizadas as técnicas de manejo de comportamento, estabilizações físicas/mecânicas, sedações ou atendimento em ambiente hospitalar sob anestesia geral. “O modelo de atendimento não está diretamente relacionado ao nível de suporte do paciente: podemos ter duas pessoas com nível 1 de suporte e cada uma com uma necessidade de atendimento diferente. Cada paciente tem seu plano de tratamento individualizado, de acordo com sua necessidade”, reforça. 

A cirurgiã-dentista esclarece, ainda, que um paciente com TEA pode ser atendido por um profissional não especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (OPNE), mas o ideal é que este profissional conheça as particularidades do autismo para proporcionar um melhor atendimento e respeitar suas necessidades, não ocasionando traumas e dificuldades posteriores de atendimento. “As questões sensoriais precisam ser individualizadas e adequadas para melhor atendimento”, completa. 

Com relação às adequações para o atendimento, a Dra. Adriana informa que elas também dependerão da necessidade individual e que, após uma anamnese detalhada, o profissional saberá as limitações e quais adequações deverá proporcionar. Ela cita exemplos: “Para um paciente com alteração sensorial auditiva, uma opção seria o atendimento com uso de abafadores; para um paciente com alteração sensorial visual, poderíamos pensar em um óculos de sol – e, assim, individualizando sempre. Mas esse processo muitas vezes consiste em tentativas até acertar a melhor estratégia de acolhimento. Os terapeutas e familiares auxiliam nesse processo”.

Como ser referência no atendimento  

Para a Dra. Adriana, embora um paciente com TEA possa ser atendido por um profissional não especialista, atuar na área de OPNE pode ser muito gratificante. 

A especialização em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais ocorre por meio de um curso de 1.000 horas e está dividida em parte teórica e clínica. Por meio deste curso, o especialista será capaz de reconhecer as diversas necessidades de várias condições entre as pessoas com deficiência e grupos sistemicamente comprometidos. “Adquirimos o conhecimento para o atendimento ambulatorial, domiciliar e hospitalar. Especificamente para o TEA temos cursos livres de 16 horas e atualizações de alguns meses”, explica a cirurgiã-dentista. 

A especialista acrescenta que o profissional deverá procurar professores com referência no atendimento e buscar esse conhecimento clínico que, segundo ela, é bem diferente quando se aprende com quem realmente atende pessoas com TEA. “Na teoria tudo funciona, mas dicas clínicas você só adquire com quem já passou pelo processo. Buscar cursos livres em outras áreas como psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, entre outros, também agrega conhecimento”.

 

DINO

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