Capacitação ajuda a preservar moda tradicional marajoara

Resgatar nas roupas os grafismos herdados pelos povos ancestrais da Ilha do Marajó, no Pará, e transmitir esse conhecimento para as novas gerações, evitando que essa rica herança se perca com o tempo. Esse é o desafio e uma das missões das artesãs da região – entre elas, Rosilda Angelim, criadora da marca Cañybó. Ela viu suas produções ultrapassarem os limites do estado depois de participar das capacitações promovidas pelo Sebrae no Pará junto com outras 47 empreendedoras do município de Soure. Hoje, sua loja produz em média 300 peças por mês, que são comercializadas em lojas de Belém e por aplicativo de mensagens. 

A empreendedora aprendeu na infância a arte da costura com sua mãe, que trabalhava com alfaiataria. Segundo Rosilda, nem sempre o retorno financeiro era o esperado porque as pessoas não gostavam de pagar o real valor de uma peça feita sob medida. Por isso, ela queria seguir um ofício que levasse menos tempo para produzir as peças e pagasse mais. Foi no Sebrae que aprendeu a trabalhar com o tecido plano – a base da camisaria marajoara – e com costura industrial. 

“Não tinha técnica, mas aprendi no curso. E ainda levei minha equipe porque, para cobrar um bom desempenho das costureiras, eu precisava saber fazer”, afirma. Antes, ela já havia feito serigrafia. Depois das capacitações, acredita que a qualidade do produto final da sua marca melhorou muito. 

Para Rubens Magno, diretor-superintendente do Sebrae no Pará, a preservação da tradição marajoara na moda é fundamental para a manutenção da riqueza cultural do estado e também para o fortalecimento da economia da região. Por isso, as capacitações abriram a perspectiva de profissionalização para muitas mulheres que já trabalhavam com os grafismos marajoaras e com as tradicionais camisas dos vaqueiros do Marajó. 

“Como os produtos regionais são cada vez mais objeto de desejo das pessoas, pois são peças únicas e autênticas, temos certeza de que vão encantar os turistas que, cada vez mais, vêm visitar o Pará por causa da realização da Conferência do Clima, no próximo ano. Temos trabalhado com empreendedores de diversos setores para capacitá-los a aproveitar essas oportunidades que a COP 30 já está proporcionando”, explica.

Rosilda confirma a percepção do diretor do Sebrae/PA: ela percebeu um aumento nas encomendas e já há pedidos de outros estados para conhecer os modelos que cria. Parte desse aumento das vendas na Cañybó se deve à participação no segundo desfile da coleção “Cápsula Marajó”, realizado no Parque Estadual do Utinga, em Belém. “Foi uma oportunidade única de mostrar nosso trabalho e de expandir os grafismos de Marajó para além do nosso estado. Ganhamos muitos seguidores no Instagram e temos recebido pedidos de outros estados”, conta.

A arte do Marajó

Inspirados na cerâmica ancestral produzida pelos povos indígenas do Marajó, os grafismos foram catalogados e reproduzidos em um livro escrito pelo padre italiano Giovanni Gallo, fundador do Museu do Marajó, em Cachoeira do Arari, e lançado em 1996. A persistência e o empenho do padre foram fundamentais para transformar os fragmentos de cerâmica que recebeu de amigos, contendo os intrincados padrões do grafismo marajoara, em uma fonte de inspiração para as bordadeiras locais, gerando empregos e renda para as famílias da região.

Além dos grafismos, Rosilda diz que as peças que cria também têm inspiração na flora e fauna do Marajó. “Como olhar os grafismos e não enxergar ali as ondas do mar ou uma cobra? Temos também as histórias dos vaqueiros que estão nos nossos cantos. Então, inspiração não falta”, afirma. “Costumo dizer que criei moda sem saber. Na verdade, eu apenas achava que o grafismo do Marajó caía bem em qualquer peça: vestidos, cropped, saia, camisa, top, chapéu de palha”.

DINO

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