Em nota recente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) destaca que apenas os médicos possuem formação e capacitação para o uso de substâncias, como fenol e PMMA, e que os problemas decorrentes do uso dessas substâncias não estão relacionados a elas em si, mas ao despreparo de indivíduos que os utilizam inadvertidamente.
De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão responsável pela avaliação, segurança, eficácia e qualidade de produtos, é necessária uma análise técnica para a liberação de venda e aplicação de todos os produtos usados em procedimentos médicos e estéticos no Brasil. Na lista de aprovação da Anvisa está o PMMA.
A dermatologista Fernanda Bortolozo (CRM-SC 30456), que atua em Balneário Camboriú, Santa Catarina, esclarece diversas dúvidas sobre o PMMA:
O que é o PMMA?
Dra. Fernanda Bortolozo: O polimetilmetacrilato é um produto extremamente versátil. É usado, por exemplo, na construção de grandes aquários, na composição de cosméticos e de comprimidos, em medicamentos injetáveis e até mesmo na indústria alimentícia. É utilizado por médicos há mais de 80 anos, pois possui compatibilidade com os tecidos humanos. O PMMA não se degrada nem se transforma em outro produto. Não é alergênico, não induz câncer e não sofre rejeição. Sua principal função nos tecidos humanos é ativar a produção da “cola natural”, o colágeno.
Em quais casos ele pode ser usado?
Dra. Fernanda Bortolozo: O PMMA para fins estéticos tem por objetivo levar à formação de colágeno. A exemplo da cimentação de próteses ortopédicas, o PMMA pode reparar assimetrias faciais e do crânio. É indicado em doenças congênitas em que há alteração dos ossos da face e em acidentes que levam à perda óssea. A redução do volume dos ossos que acontece naturalmente no envelhecimento também pode ser incluída nas indicações.
O aumento de glúteos nos casos de perda volumétrica por emagrecimento, envelhecimento e flacidez pode ser considerado entre as indicações de uso.
O tratamento da depressão trocantérica – um afundamento na região do quadril que se apresenta de aspecto masculino em mulheres, especialmente nas que têm pouco tecido gorduroso e hipertrofia muscular – pode ser indicado.
Em pacientes que utilizam medicações que consomem gordura, levando à lipodistrofia, o PMMA tem seu uso consagrado.
No tecido subcutâneo, o PMMA atua como bioestimulador de colágeno maduro. Com técnica adequada, torna o tecido menos flácido, impedindo a flacidez da gordura que ocorre no emagrecimento e no envelhecimento. Na pele, tem indicação consagrada na literatura para o tratamento de cicatrizes de acne.
Quais são os profissionais que podem aplicar o produto?
Dra. Fernanda Bortolozo: No Brasil, apenas médicos podem utilizar o PMMA em face e corpo com objetivo estético. Em face, dentistas também estão autorizados a utilizar o produto.
Quais são os cuidados que devo tomar ao ter a indicação do produto?
Dra. Fernanda Bortolozo: É fundamental que, após a consulta, o paciente realize exames de sangue e de imagem. O alvará sanitário da clínica também deve estar em local de fácil visualização. Quanto ao produto, o paciente deve exigir que o produto seja aberto na sua frente no momento do procedimento. A etiqueta fornecida pelo fabricante do produto deve estar entre os documentos que levará para casa.
Os documentos principais são: o termo de consentimento, as orientações sobre o pós-procedimento, a data de retorno e o contato telefônico da clínica caso haja alguma dúvida.
Quais são as contraindicações?
Dra. Fernanda Bortolozo: As contraindicações ao uso do PMMA são as mesmas dos bioestimuladores de colágeno absorvíveis. Não é indicado para gestantes e mulheres em período de amamentação. Há contraindicação nos casos de doenças crônicas descompensadas, doenças do colágeno como lúpus, dermatomiosite, esclerodermia sistêmica e doenças granulomatosas como sarcoidose.
Seu uso também é evitado em pacientes que façam suplementação de vitamina D e que tenham seus exames de sangue ou de imagem alterados.
O que de mais grave pode acontecer no uso do PMMA?
Dra. Fernanda Bortolozo: Toda intervenção, seja ela estética ou não, tem seus riscos. Os principais riscos no momento do procedimento, tanto para o PMMA quanto para os bioestimuladores de colágeno temporários e o ácido hialurônico, são os mesmos:
– Oclusão e embolia: injetar grande quantidade de um desses produtos dentro de um vaso sanguíneo pode levar à oclusão e necrose de pele ou embolia pulmonar. Para reduzir esse risco, o uso de microcânula e as técnicas de movimento do dispositivo são utilizadas;
– Nódulos: o acúmulo de qualquer um destes produtos em um único ponto de injeção pode levar ao aparecimento de nódulos. Apenas o ácido hialurônico tem um diluente, já os bioestimuladores de colágeno e o PMMA não. Nódulos por acúmulo de produto podem ter eventos adversos de difícil manejo, mas raríssimos são os casos que necessitam de intervenção cirúrgica para melhora estética. Mais uma vez, a técnica do médico deve ser precisa, sem injetar em um único ponto muito produto;
– Infecção: com antissepsia ideal, o risco de infecção é o mesmo de outros implantes injetáveis. A prescrição de antibiótico conforme o germe contaminante é instituída pelo médico;
– Granuloma: não é sinônimo de nódulo. Utiliza-se hoje o termo granuloma quando há uma inflamação – com todas as áreas que têm o mesmo produto (seja PMMA ou bioestimuladores de colágeno temporários) se apresentando vermelhas, quentes e inchadas;
– Migração: até onde os meios diagnósticos atuais conseguem avaliar, o PMMA não migra para outro tecido diferente daquele em que foi injetado.
Dessa forma, embolia ou oclusão não são eventos associados com o implante de PMMA após sua fixação no tecido.
Qual dica indispensável devo ter sobre o PMMA?
Dra. Fernanda Bortolozo: O PMMA já se provou um produto seguro para humanos quando aplicado com técnica adequada por médico experiente, que conhece as limitações do seu uso. Os inestetismos e os exageros em grandes volumizações faciais e corporais estão relacionados tanto ao médico que injeta o produto quanto à demanda ou expectativa irrealista do paciente, e não ao produto PMMA em si. Compreende-se, então, que nenhum destes eventos leva à morte ou incapacitação do paciente.
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