Habitava uma estranha casa, nela não se encaixava. Vivia penso, por um fio, nem sei bem o que o segurava àquele fio. Agonizante vê-lo, agoniado vivia ele, a um passo do abismo, da queda do que sequer seria um paraíso, contudo, era seu abrigo, preso ao próprio umbigo. Um fio de linha, um traço mal cerzido lhe aplacava da irremediável queda ao chão, a um metro e cinquenta da condenação. Era sim condenado sem crime declarado. Também não havia absolvição, se um dia quedasse ao chão.
Pensava ele em sua vida, seus infortúnios, sua tediosa existência, mãos desgostosas o tocavam. Mera rotina, mera necessidade de vestir ou de despir, contudo sem emoção. E ele permanecia pendurado, calado, desolado, descolado da casa, da vida, do olhar do proprietário. Botão é propriedade de alguém? Sim, até que se subtraia, até que caia. Outrora pendurado por um simples fio, agora caiu de vez no vazio. No abismo não haveria outra vez.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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