A mulher contava sobre o homem em algum canto do hospital. Imóvel, sujo, por horas sentado numa cadeira sem atenção. Há anos imobilizado, não possuía autonomia para ter seu próprio cenário modificado. Mulher segura, com braços fortes e pensamentos firmes em acolher quem não é capaz de a si mesmo atender. Fim dos tempos de alguém, incapaz de manter a si, sem prover a própria alimentação, a higiene e a digna condição. Há sim muita humanização em não permitir que outrem viva em precária situação. A mulher não tem senões em atender, não tem preguiça em trabalho prover, com os próprios braços erguer. O homem imóvel olha tudo, mas não vê, não responde, nenhuma sequer palavra dita, sua desdita é quem lhe dita a inércia da vida. Mas o corpo recebe amparo, banho, comida que chega à boca, não é pouca coisa. A mulher parece gigante, uma deusa grega quando se põe a cuidar. E haja afeto naqueles braços a abraçar e limpar. Um homem que era sujo com a dignidade a recobrar.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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