Não se sabe bem quando começaram a chamá-la de menina-framboesa. Tempo faz, vagas lembranças de quando pequenina e alguém a lhe chamar assim. Tinha olhos grandes em cor de mel e a natureza agreste, vivia em meio à vegetação, às árvores, aos arbustos e seus frutos.
Ao lado de casa havia um pinheiral e embaixo das árvores a surpresa em pinceladas vermelhas, as framboesas silvestres resistiam a tudo, conseguiam se refazer das moléstias e seguiam. Apesar de doces, eram ornadas com espinhos que não facilitavam a intromissão.
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Certa vez, à noite, veio com a sutileza de um sussurro em forma de cantiga de ninar e a menina adormeceu em meio às framboesas. O frio da madrugada trouxe o desconforto e ela se embrenhou pela touceira adentro, um nicho de calor. O aconchego tomou conta e embalou os sonhos.
Na manhã seguinte, os pais, desesperados, gritavam por ela. Acharam-na dormindo profundamente entre as espinheiras de framboesa. Não conseguiram alcançá-la, tiveram que recorrer à foice e ao facão para abrir os galhos e alçar o minúsculo habitáculo no qual ela adormecera, sem nenhum arranhão e sem ninguém entender como conseguiu chegar até lá.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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