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O que se sabe sobre os relatos de corpo de bebê boiando no RS

As enchentes que atingem o Rio Grande do Sul desde 27 de abril afetaram 385 dos 497 municípios. As inundações já provocaram a morte de 85 pessoas, de acordo com o último boletim de atualização da Defesa Civil do RS, divulgado às 18h57 de segunda-feira (6). Outras 134 estão desaparecidas e 339 estão feridas. Quatro óbitos estão em investigação.

Em meio à tragédia, conteúdos falsos sobre supostos corpos que aparecem boiando têm circulado pelas redes sociais e alimentado pânico na população. Entre os dias 5 e 6 de maio, a reportagem da Lupa recebeu ao menos dois áudios diferentes de depoimentos, sem provas, imagens ou confirmação de órgãos oficiais, de cadáveres que teriam sido encontrados na água.
Nesta segunda-feira (6), um dos boatos que circularam em grupos de WhatsApp e nas redes sociais foi o relato em áudio de um homem que supostamente encontrou o corpo de um bebê boiando enquanto resgatava três crianças.
Reprodução
Ele também narra que “tem muita gente morta boiando” no Mathias Velho, bairro da cidade de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. A gravação vem sendo compartilhada sem indicar a fonte, imagens ou o nome do autor da declaração.
Até o momento, essa informação não foi confirmada pelo Corpo de Bombeiros Militares (CBM) do RS, corporação que está coordenando os salvamentos no estado. A Lupa fez um compilado sobre o que se sabe até agora sobre o assunto. Confira:

Bombeiros e Defesa Civil não confirmaram corpo de bebê boiando

Até a tarde de segunda (6), o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil do Rio Grande do Sul informaram que não há qualquer relato oficial de que o corpo de um bebê ou de outras vítimas foram encontrados boiando nas enchentes.
Por telefone, o subcomandante geral do CBM do RS, coronel José Carlos Sallet, disse que nenhum dos 1 mil bombeiros que estão atuando nas buscas e salvamentos reportaram caso similar ao do áudio.
“Neste momento, estamos trabalhando no resgate de pessoas vivas. Mas ainda não tivemos que resgatar nenhum corpo boiando — se nosso efetivo tivesse visto, teria recolhido”, disse Sallet.
A Defesa Civil do RS informou que seus agentes estão atuando especialmente na gestão, já que muitos municípios tiveram infraestrutura colapsada. Por não ter efetivo atuando em barcos e diretamente nos resgates, não pode confirmar a veracidade do relato sobre o suposto corpo do bebê.
As Forças Armadas, que desde o dia 30 de abril estão com uma operação especial para atuar em salvamentos via aquática, terrestre ou aérea, foram procuradas mas não responderam até a publicação desta reportagem.

Voluntários que ajudam nos salvamentos não viram nenhum corpo boiando

Além dos Bombeiros de nove estados e de agentes das Forças Armadas enviados ao Rio Grande do Sul, muitos voluntários sem qualquer ligação com alguma das corporações têm auxiliado nos resgates. O advogado Lucas Marcelo Braz integra um grupo de 12 pessoas que saiu da cidade catarinense de Criciúma com três motos aquáticas e um bote para ajudar nos salvamentos. No sábado (4) e no domingo (5), eles atuaram especialmente na cidade de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, onde vários bairros ficaram embaixo d’água.
“Eu passei o dia inteiro ontem [domingo] rodando em todas as ruas lá de Jet Ski e não vi nenhum corpo”, contou Braz.  “Eu, pessoalmente, não vi não. Eu rodei todo o bairro Mathias Velho e não vi nada. Todas as pessoas com quem eu conversei ao longo do dia também não viram”, afirmou. Ele também relatou que os 11 voluntários catarinenses que estão trabalhando nos salvamentos no fim de semana não reportaram nenhum caso similar.
Outro voluntário, Gimi Vidal, também declarou que não viu nenhum corpo, nem de adultos nem de crianças. Morador de Torres, no litoral norte gaúcho, ele está dando apoio aos resgates na região de Canoas desde a madrugada de domingo (5).
Reprodução
Os jornalistas Carlos Rollsing, do jornal Zero Hora, e Lisielle Zanchettin, da Rádio Gaúcha, que têm atuado na linha de frente da cobertura da tragédia, também disseram à Lupa que não há nenhuma confirmação de corpos boiando em Canoas — nem corpo de bebê.

Situação pode se agravar quando a água baixar

Embora ainda não tenham sido confirmados os relatos de cadáveres boiando nas áreas inundadas, oficiais que atuam nas buscas explicam que é, sim, possível, que corpos apareçam quando a água começar a baixar.
“Não temos ainda computado a quantidade de pessoas que estavam dentro de casa, quantas não conseguiram sair e chamar socorro. Por isso, é possível, sim, que se encontrem cadáveres”, afirma o subcomandante geral do CBM, coronel José Carlos Sallet.
A corporação está com uma operação especial de salvamento no Hospital de Pronto Socorro (HPSC) da cidade de Canoas, que teve parte da estrutura alagada. Pacientes internados na unidade tiveram que ser evacuados no sábado (4). Na tarde desta segunda (6), dois corpos foram encontrados dentro do hospital, de acordo com os Bombeiros. Essas mortes foram incluídas na atualização da tragédia feita pela Defesa Civil do RS.
“Dentro do hospital ainda é possível que sejam localizados outros, mas isso não está confirmado. Mergulhadores dos Bombeiros ainda não conseguiram entrar no local em razão do lixo hospitalar e do risco de materiais infectantes. Por isso, teremos que averiguar quando a água baixar”, informou o coronel Sallet, do CBM.
Atualização em 7/5/2024, às 11h31: na segunda-feira (6), uma mulher que alega ter sido a primeira a receber o áudio com relato do socorrista, Gabriela Klein, publicou um vídeo no Instagram informando que a gravação é real. Ela disse que o autor do depoimento é seu amigo pessoal e que ele teria enviado o relato às 16h42 de domingo (5). A mensagem teria vazado na internet depois que ela compartilhou em seu grupo de trabalho. Na manhã desta quinta (7), a reportagem da Lupa entrou em contato com Gabriela e pediu o contato do socorrista. Ela informou que, neste momento, “ele não quer falar” e que jornais de vários lugares do país estão tentando conversar com ele.

Com informações da Agência Lupa

Das assessorias

Textos produzidos pelas assessorias de imprensa. Sejam dos órgãos públicos, de empresas da iniciativa privada ou de organizações do terceiro setor.

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