Olhos são feitos de água, talvez a parte mais líquida do corpo. Sei que há sangue, linfa, líquidos que passeiam num roteiro programado e previsível na fisiologia humana. Tão embebidos enquanto os meus, tornavam-se embevecidos eram os olhos dele. Quando menos se esperava, em conversas de diferentes teores e temas, lá estava ele a apontar seus olhos lancinantes em verter lágrimas salgadas. Sei que elas sempre são salgadas, porém há mares diferentes em salinidade daqueles que banham suas terras-olhos tão fortes em sal. Não consigo me manter indiferente às lágrimas masculinas, são especialistas em comover. Miro naquele oceano pessoal, mergulho em suas fossas abissais, abraço o corpo. Enquanto submerjo nas suas marés em leitos oceânicos, também me deixo perpassar. Descubro que sou fluídica, também me sinto liquefazer a partir daquele choro. Quando nos abraçamos, minhas margens de rio são inundadas por um amor totalmente líquido. Teu corpo no meu é rio que deságua no mar e estarei sempre pronta a marejar. Teus olhos são meu mar.
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