Pé de couve
Nos fundos de casa elas cresceram bem. Não poderiam faltar nas sopas, caldos, para acompanhar o feijão. Porções de bacon sempre presentes, embora todos ralhassem com a titia, com colesterol altíssimo, não era coisa boa exagerar na gordura.
Nos últimos 59 anos a tia Marcília mantinha firme o hábito de cultivar a horta mesmo sob os protestos dos sobrinhos e netos preocupados com o visível declínio que sua desenvoltura corporal apresentava.
Difícil negociar com ela que abriu mão de quase tudo menos dos pés de couves, em pleno viço, adquirido à base daquele estrume de titica de galinha que só a tia Marcília sabia onde arrumar. Tudo pronto para colher e eis que o pé, não o da couve, mas, o da titia, virou-se com o peso do corpo cansado que a
idade trouxe e lá foi ela, reta até o chão, a torcer pés e pinos aplicados onde já havia pouca mobilidade e sustentação.
O pé de couve sussurra baixinho no ouvido da tia Marcília que seu pé não está “ao par” da altura das couves.
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