Pressão dos alimentos e bebidas impulsiona IPCA-15 em março

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou uma alta de 0,64% em março, uma desaceleração em relação ao aumento de 1,23% observado em fevereiro, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da diminuição na taxa mensal, a inflação acumulada em 12 meses atingiu 5,26%, superando os 4,96% do mês anterior e marcando a maior taxa desde março de 2023.

Esse índice ultrapassa consideravelmente a meta oficial de inflação, que é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. A expectativa do mercado, conforme pesquisa realizada pela Reuters, apontava um aumento mensal de 0,70% e uma taxa anual de 5,30%, indicando que os resultados ficaram aquém das previsões.

A pressão sobre o IPCA-15 foi principalmente impulsionada pelo grupo Alimentação e Bebidas, que apresentou uma alta significativa de 1,09%. O custo dos alimentos consumidos em domicílio também subiu, passando de 0,63% em fevereiro para 1,25% em março. Entre os itens que mais impactaram o orçamento dos consumidores estão os ovos de galinha (19,44%), o tomate (12,57%), o café moído (8,53%) e as frutas (1,96%).

Recentemente, tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto o ministro da Fazenda Fernando Haddad expressaram preocupação com a inflação dos alimentos, que tem sido apontada como um fator contribuinte para a queda na popularidade do presidente.

Além disso, as exportações brasileiras de ovos aumentaram em 57,5% em fevereiro devido à crescente demanda do mercado norte-americano, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Outro fator relevante que afetou o índice foi o aumento de 0,92% no grupo Transportes. Juntos, Alimentação e Transportes foram responsáveis por cerca de dois terços do resultado total do IPCA-15. Os combustíveis também sofreram um incremento médio de 1,88%, com elevações específicas nos preços do óleo diesel (2,77%), etanol (2,17%), gasolina (1,83%) e gás veicular (0,08%).

No setor Habitacional, houve uma desaceleração para 0,37% em março após um aumento significativo de 4,34% em fevereiro. A energia elétrica residencial teve um leve aumento de 0,43%, após um salto notável de 16,33% no mês anterior.

De acordo com André Valério, economista sênior do banco Inter, o núcleo da inflação — que exclui itens voláteis como alimentos e combustíveis — apresentou uma desaceleração para 0,47%, comparado a 0,61% anteriormente. Embora a inflação de serviços tenha recuado ligeiramente para 0,66%, Valério observa um aumento nas margens tanto da inflação subjacente quanto nos serviços intensivos em mão-de-obra.

O economista alerta que mesmo com a melhora qualitativa observada nos números de março ainda é prematuro relaxar as medidas cautelares frente à inflação persistente dos alimentos. Valério destaca que essa situação pode ter efeitos colaterais sobre o restante do índice inflacionário.

Na semana passada, o Banco Central decidiu elevar a Selic para 14,25% ao ano — uma quinta alta consecutiva — e sinalizou possíveis ajustes menores nas próximas reuniões. Em seu Relatório de Política Monetária divulgado recentemente, a autoridade monetária prevê que a inflação permaneça acima do teto da meta durante este ano.

A atenção continua voltada para o robusto mercado de trabalho brasileiro e suas interações com fatores externos como a valorização do dólar e as tarifas impostas pela administração do presidente dos Estados Unidos.

A última pesquisa Focus realizada pelo Banco Central indica que os especialistas projetam uma inflação ao final deste ano em torno de 5,65%, com a Selic estimada em 15%.

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