Hoje, foi a primeira vez que vi teu rosto na parede, aquela verde para a qual você torceu o nariz quando propus pintar. Ao final, gostou e sempre olhavas pela janela, no meio do verde, a procurar não sei bem pelo quê. Nunca soube o que fitavas, tampouco se estavas realmente ali. Encontrei teu rosto nos lustres. Na colcha da cama também te encontrei e dormias como uma criança. Foi quando percebi que eu não mais encontrava contigo no desencontro dos rostos contidos, pelos azulejos teus sorrisos esquecidos nos rejuntes dos ladrilhos. Na pia de cozinha, no fio de água que corre, vejo tuas mãos. Estão tão riscados os pratos e nossos peitos nem sempre afeitos ao teor das lembranças que encharcam os olhos.
Hoje, vi você no capacho da garagem, nas botinas largadas. Hoje, vi você na saudade que se escondeu na sala de jantar, sentada na cadeira esperava tua presença a se acomodar. Hoje, te encontrei no quintal de casa, lá, bem atrás, e parecia mesmo ser você, mas era só de ti saudade e recordação. Teu rosto eu vejo no travesseiro e na toalha de banho.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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