Quando lembro de sua partida muitas memórias me vêm à mente. Uma das mais bobas é a do sabonete roxo. Ao descasca-lo fui surpreendida por aquele tom vibrante de roxo e lá no banheiro ele nos percorria da forma generosa como só um sabonete sabe oferecer. E ele permaneceu lá. Os banhos, passaram a ser apenas os meus. Contava os dias, as semanas e chegou o primeiro mês e na saboneteira lá está ele em seu tom púrpura. Na hora do banho me fazia lembrar de você. Foi quando a conta do tempo parou, foi quando perdeu o sentido contar o tempo, foi quando parei de contar para qualquer alguém que qualquer tempo seria agora sem a conta do teu tempo que não mais vigora. Coisa de quem tão de surpresa foi embora. Deixou no sabonete roxo a ausência que marcou, a água que não enxaguou. Só no sabonete roxo tua presença impregnada foi de certa forma conservada.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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