Sair para comprar cigarro, por Renata Regis Florisbelo
Naquele 1999, muita coisa aconteceu. E haja vitrine com pedras, cristais, amuletos para proteger a casa e escritórios. O obscuro a nos encher de temores quando vem à tona o futuro e as possibilidades. No afã de tranquilizar-se, um casal foi consultar uma numerologista incomum. Cartas, tarô e outros objetos sobre a mesa. Ao final, a mulher revelou à paciente que o marido dela era imprevisível, do tipo que sai de casa para comprar cigarro e nunca mais volta. Pelas próximas duas décadas, a menção a esta frase seria brincadeira constante entre o par.
Os tempos mudam de cor, as décadas que adquirem contornos em tensões, em acontecimentos, mudanças além do previsto e a expressão dele ganhou olhares, sobrancelhas levantadas e lábios entreabertos, numa desconfiguração que ela jamais vira.
Novos olhares indefectíveis e, ao sair de casa, deixando à porta o homem sozinho, pela primeira vez, ela poderia afirmar que o indivíduo plantado à frente, que nunca fumou, se saísse para comprar cigarros, por certo, nunca mais haveria de voltar.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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