Muro baixo que servia para encaixar a bunda enquanto se esperava pelo ônibus. A loja, cuja frente era diariamente visitada por centenas de ônibus, pensara em aumentar a altura do muro e acabar com aquela aglomeração, contudo sempre um diretor generoso se apiedava das nádegas desamparadas dos pedestres dependentes do transporte urbano.
Ao cair da noite, alguns se reuniam portando as latas de spray de tinta. Era correr e escutar o tilintar do som provocado pelo vigoroso agito da tinta no interior da lata, pronta para aprontar arte. Mais uns passos e o som do apito suave no esguicho de tinta, sendo lançada qual o prazer de um gozo. E neste jorro de letras se formavam um conjunto de palavras em segundos. Uma pichação com teor humorístico, filosófico, intelectual ou tudo isto junto.
Palco das bundas cansadas, o muro foi alvo de um esguicho e, quando os primeiros ônibus chegaram, todos puderam ler: “seio ou não seio, eis o tesão”. Por certo, as tais nádegas sentiram-se desfavorecidas.
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