Estender uma série além da conta é uma aposta que nem sempre dá frutos. Da debandada do elenco principal de Scrubs às tramas repetitivas de Supernatural, exemplos não faltam de possíveis problemas que uma produção pode ter com uma sobrevida exagerada. Justamente por isso, alguns fãs ficaram apreensivos quando a Netflix anunciou que Lucifer, que supostamente se despediria após seu quinto ano, havia sido renovada para uma sexta e última temporada. Como o seriado já flertou com o desgaste anteriormente, havia um receio de que os dez episódios finais oferecessem mais do mesmo. Felizmente,o showrunner Joe Henderson e sua equipe mantiveram a promessa de fazer da nova temporada um presente, atendendo os pedidos do público de forma competente e emocionante.
Abraçados no desejo dos fãs, os roteiristas de Lucifer não tiveram o trabalho de decidir de fato o destino de cada um dos personagens principais. Embora esse apego aos pedidos do público inevitavelmente leve a série para um lugar previsível, os caminhos encontrados pela equipe contam com surpresas o bastante para impedir que haja qualquer indício de cansaço ao longo do sexto ano.
Mantendo o tom cômico do quinto ano, Lucifer passa seus dez episódios finais prestando homenagem a temporadas anteriores, com participações e referências que mostram o quanto o Sete-Peles de Tom Ellis evoluiu ao longo dos anos. Apesar da nostalgia, a série evita se prender ao passado e dá espaço para maior crescimento de seus principais nomes, especialmente Chloe (Lauren German).
A detetive, aliás, tem um de seus melhores arcos individuais desde o começo da série. Impulsionada pelo luto e por uma sensação de impotência, Decker se coloca em situações problemáticas, obrigando o Cramunhão a tirá-la do pedestal que criou logo no primeiro episódio da produção. Dona da trama mais emocionante da temporada, German consegue roubar os holofotes de volta e impede que Chloe volte à posição discreta que teve na segunda metade do quinto ano.
DB Woodside também se destaca como Amenadiel, especialmente no episódio sobre o racismo estrutural nas forças policiais. É através do anjo que Lucifer explica didaticamente o esforço institucionalizado de acobertar casos de brutalidade e abuso de autoridade de agentes dedicados a manter o status quo preconceituoso. Em um dos momentos mais duros da série, o irmão do protagonista, ainda relativamente inocente sobre a relação entre policiais e civis, é lembrado por sua supervisora, vivida por Merrin Dungey, que o uniforme e o distintivo que usam se tornaram símbolo de medo na comunidade negra e que as ações de policiais racistas estão longe de serem “casos isolados”.
Isso não quer dizer que o restante do elenco fique de escanteio. Carismáticas como sempre, Aimee Garcia e Lesley-Ann Brandt comandam algumas das cenas mais poderosas da temporada, enquanto Rachel Harris segue sendo uma competente representante do público na trama celestial. Como equipe ou individualmente, todo o elenco principal tem seu momento de brilhantismo, especialmente nos momentos dedicados às suas despedidas.
Como já foi dito, o final de Lucifer não traz muitas surpresas, com quase todos os arcos já teorizados ou pedidos pelos fãs. Essa previsibilidade, no entanto, não atrapalha em nada a despedida, que chega como um emocionante presente de agradecimento ao público e garante um lugar especial no coração daqueles que tanto pediram pela sobrevida da série.
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