De repente um imenso vazio. Percebeu que a vida se acumulava, juntava dias, meses, anos e colocava num lugar comum, uma vala, um sepulcro. Procurou por algum espaço, não encontrou. A vida parecia ter se chafurdado. Como poderia a própria vida fugir, pensava, mas não encontrava resposta. Aquela pessoa sorridente e vibrante deixara de existir. Em seu lugar surgiu um ser estranho e sombrio. Uma criatura arredia, desconfiada, sempre de olhar atravessado. Revirou tudo, as memórias e nada encontrou. Precisaria produzir um sentimento feliz e com ele passar a viver em paz. Que difícil, só haviam recordações ruins. Todos os dias era olhar para tudo e buscar a reparação dos próprios atos. O vazio continuava imperando, sua mente por vezes não se importava mais. Um misto agonizante entre lutar e sucumbir, respirar ou se afogar, largar ou relutar. Raramente, um lampejo de luz fazia tudo se revelar menos obscuro.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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