Tínhamos um encontro marcado, todos os dias, às 11h48min, eu o avistava chegando ao restaurante industrial. Nossos horários se dessincronizavam um pouco, ele quinze minutos defasado em relação a mim. Uma espera aguardada até que eu reconhecesse aquele par chegando por detrás da fila de gente faminta e apressada se amontoando e pincelando a paisagem numa única mancha contínua de uniformes azuis e botinas pretas.
Mas ele não! Infiltrava-se docemente, com suas calças e jaquetas jeans, rebelde, e aqueles calçados descontraídos em cadarços invariavelmente coloridos. Meus olhos não conseguiam fitar longe deles e eu era só amores por seus pés, por aqueles cordões-cadarços leves e despreocupados. Por debaixo da mesa, os pés cruzavam e se descruzavam entre as agitações das pernas. Ele balançava, dançava, quase sapateava, e os cadarços bailavam numa dança aquarelada.
Não sei seu nome, nunca perguntei, nem adiantaria perguntar, cadarços não têm nome, talvez tenham dono. Se eles têm coração também não sei. Só sei que por eles me encantei.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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