Coluna

Cadarços por Renata Regis Florisbelo

Tínhamos um encontro marcado, todos os dias, às 11h48min, eu o avistava chegando ao restaurante industrial. Nossos horários se dessincronizavam um pouco, ele quinze minutos defasado em relação a mim. Uma espera aguardada até que eu reconhecesse aquele par chegando por detrás da fila de gente faminta e apressada se amontoando e pincelando a paisagem numa única mancha contínua de uniformes azuis e botinas pretas.

Mas ele não! Infiltrava-se docemente, com suas calças e jaquetas jeans, rebelde, e aqueles calçados descontraídos em cadarços invariavelmente coloridos. Meus olhos não conseguiam fitar longe deles e eu era só amores por seus pés, por aqueles cordões-cadarços leves e despreocupados. Por debaixo da mesa, os pés cruzavam e se descruzavam entre as agitações das pernas. Ele balançava, dançava, quase sapateava, e os cadarços bailavam numa dança aquarelada.

Não sei seu nome, nunca perguntei, nem adiantaria perguntar, cadarços não têm nome, talvez tenham dono. Se eles têm coração também não sei. Só sei que por eles me encantei.

Autoria: Renata Regis Florisbelo


Renata Regis Florisbelo

Renata Regis Florisbelo

É escritora, autora de 16 livros (o 17º já esta em trabalho de parto) e catalisadora cultural. Divulga poemas curtos, diariamente, nas redes sociais desde 2014. Tem mais de 690 textos publicados nos veículos de comunicação dos Campos Gerais, incluindo os vídeos com leituras interpretativas autorais produzidos para o BNT. É integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais, do Centro Cultural Professor Faris Michaele (atual presidente), da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes, do Centro de Letras do Paraná e patronesse da Academia de Letras do Centro do Paraná. Encontra na arte seu nicho por onde desvelar seu melhor olhar para o mundo.

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