Ruas foram bloqueadas, lojas fechadas, os telefones não estavam funcionando e os alto-falantes das mesquitas apelavam por uma greve geral no Sudão nesta terça-feira (26), um dia depois de o Exército tomar o poder com um golpe de Estado que provocou tumultos e deixou ao menos sete mortos.
Colunas de fumaça de pneus incendiados por manifestantes pairavam sobre Cartum. A vida parou na capital e na cidade gêmea de Omdurman, do outro lado do Nilo, e ruas foram bloqueadas ou por soldados, ou por barricadas de manifestantes.
A noite pareceu ter transcorrido tranquila depois dos tumultos dessa segunda-feira (25), quando manifestantes foram às ruas depois que soldados prenderam o primeiro-ministro Abdalla Hamdok e outros civis do gabinete. Uma autoridade do Ministério da Saúde disse que sete pessoas foram mortas em choques entre manifestantes e as forças de segurança.
Também ontem, o general Abdel Fattah al-Burhan dissolveu o Conselho Soberano, composto por militares e civis e criado para conduzir o país à democracia após a deposição do autocrata Omar al-Bashir, em uma revolta popular dois anos atrás.
Burhan anunciou estado de emergência, afirmando que as Forças Armadas precisam salvaguardar a segurança e a proteção do país. Ele prometeu realizar eleições em julho de 2023 e entregar o poder a um governo civil eleito.
Nesta terça-feira, ele dissolveu comitês que governam sindicatos, noticiaram canais de notícia árabes.
O Ministério da Informação, ainda leal a Hamdok, classificou a tomada de poder como um crime e disse que o premiê ainda é o líder legítimo.
Hamdok e os membros desaparecidos de seu gabinete ainda estão sendo detidos em local desconhecido, disse o ministro das Relações Exteriores do governo deposto, em mensagem publicada na página de Facebook do Ministério da Informação.
As principais ruas e pontes entre Cartum e Omdurman foram fechadas pelos militares para veículos. Bancos e caixas eletrônicos foram fechados, e aplicativos de celular usados amplamente para transferências de dinheiro estavam indisponíveis.
Algumas padarias estavam abertas em Omdurman, mas as pessoas passavam horas nas filas, mais do que o normal.
“Estamos pagando o preço da crise”, disse, irritado, um homem de cerca de 50 anos que procurava um remédio em uma das farmácias onde os estoques estão diminuindo. “Não podemos trabalhar, não conseguimos achar pão, não há serviços, não há dinheiro.”
Reuters