No cenário cada vez mais competitivo do mundo dos negócios, onde muitas vezes o concorrente é visto como inimigo e numa sociedade que se torna dia a após dia mais capitalista, usar termos como fraternidade, solidariedade e colaboração poderia até parecer blasfêmia, ainda mais quando se trata de empreendedores.
Por muito tempo, e até hoje, algumas pessoas acham que empreender é uma atividade solitária. Que depende exclusivamente da força de vontade de cada um. Porém, tanto na vida social como no mundo dos negócios, a parceria e a colaboração têm se mostrado cada vez mais eficiente e uma alternativa viável para o crescimento dos pequenos negócios.
Tanto que os mais recentes Guias de Tendências do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), apontam as fraternidades empresariais e a economia colaborativa como realidades. O consultor Maurício Reck explica que esses conceitos envolvem a união de esforços de empresários de segmentos diferentes, porém voltados ao mesmo público-alvo. E tem se mostrado uma poderosa ferramenta para atrair mais clientes e ampliar os negócios entre todos os envolvidos.
“Nessa era de economia colaborativa, onde a cooperação é tão valorizada quanto a concorrência, é fundamental enxergar o potencial que reside na sinergia entre empreendimentos diversos. Através dessa abordagem, empresários conseguem combinar recursos, conhecimentos e habilidades, fortalecendo não apenas seus próprios negócios, mas também a economia local como um todo”, diz Maurício.
Essa transformação na maneira de se posicionar diante do mercado, dos clientes e da própria comunidade já é uma realidade em Ponta Grossa. No último final de semana de Abril, um grupo de empreendedores locais realizou a primeira edição do “Da Nossa Terra”. Esse evento pioneiro une empresas de diferentes segmentos em um mesmo espaço, oferecendo não apenas produtos e serviços, mas também opções de cultura e lazer para o público.
A ideia começou a ganhar corpo com o casal Elias e Camila Vidal. Eles são proprietários de uma marca de produtos genuinamente ponta-grossenses de artigos de couro. Assim como a maioria dos empresários brasileiros, enfrentaram muitas dificuldades no período da pandemia de Covid-19.
Com resiliência e muito esforço, passaram pelo período de maior dificuldade e junto com outros empresários amigos construíram uma verdadeira fraternidade comercial. A aproximação com os colegas que vivenciam os mesmos tipos de dores e de necessidades resultou numa ação concreta.
“Eu e minha esposa sentimos na pele até hoje, o quão difícil é divulgar um negócio. A gente sabe o quanto é pesado e custoso para poder divulgar um negócio, então nada melhor do que a gente unir força com outros comerciantes, para que possamos fazer essa divulgação de maneira irreverente e divertida ao mesmo tempo”, disse.
Ampliação dos negócios
E justamente a diversidade entre os negócios é apontada pelos empresários como um principais pontos positivos da iniciativa. Na primeira edição do “Da Nossa Terra”, por exemplo, estavam reunidos empresas de artesanato, moda e beleza, vestuário, camping e pesca, alimentação, bebidas, além de artistas. Um deles é Felipe Rodrigues, proprietário de uma empresa de alimentação localizada em um shopping center.
“Esses eventos agregam públicos diferentes para o nosso negócio. Como as empresas são de setores distintos, a gente acaba divulgando os nossos produtos para pessoas que, muitas vezes, não nos conheciam. Essa rede de contatos é muito importante. Pra mim, por exemplo, é fundamental, porque nem todo mundo vai ao shopping. Assim, a gente agrega e vai somando. Estou ansioso pela próxima edição”, comentou Felipe.
União e conhecimento
O consultor do Sebrae, Maurício Reck, confirma que a colaboração entre os empreendedores permite que cada um se beneficie do público atraído pelos demais, resultando em maior visibilidade para todos os participantes e uma experiência enriquecedora para os consumidores”.
Segundo ele, os empreendedores precisam estar atentos às mudanças no comportamento dos consumidores. “Cada vez mais as pessoas estão preocupadas com questões como sustentabilidade e na relação das empresas com as comunidades locais. Por isso, faz muito sentido comprar de quem está próximo”, acrescenta.
Maurício Reck também destaca a importância de os empreendedores ampliarem suas redes de contatos, para facilitar a conexão com outros empresários e continuarem se aperfeiçoando.
Qualificação e inclusão
E os empreendedores de Ponta Grossa não estão sozinhos em sua jornada de sucesso. A cidade conta com a Sala do Empreendedor, um espaço que oferece capacitação, orientação e apoio gratuitos aos empresários. Esse ambiente propício ao desenvolvimento de negócios também abriga o projeto Voe, uma aceleradora de negócios que realiza turmas abertas duas vezes por ano. As inscrições estão abertas para a próxima turma, que terá início em agosto.
Os interessados podem buscar mais detalhes através do site e também pelo whats: 42 99144 9833
De acordo com a presidente da Agência de Inovação e Desenvolvimento de Ponta Grossa, Tônia Mansani, à medida que mais empresários adotam essa mentalidade colaborativa e encontram formas de se unir em prol de objetivos comuns, a economia local é fortalecida e a comunidade como um todo se beneficia.
“Os programas que a Sala do Empreendedor proporciona têm o princípio trabalhar a inovação como forma de levar o desenvolvimento para as pequenas empresas. São trabalhados processos de co-criação, que ajuda o empresário a desenvolver esse espírito de colaboração, de fraternidade, entre as empresas. Porque nós entendemos que se você quer ir mais rápido, você vai sozinho. Porém, se você quer ir mais longe, você caminha junto”, diz Tônia.
Elias Vidal foi um dos mais de 300 empresários formados pelas turmas do Voe, em Ponta Grossa. Segundo ele, o projeto “Da Nossa Terra”, é um exemplo de que dessa semente de colaboração já está começando a produzir bons frutos. Para ele, através do conhecimento compartilhando, estão surgindo novas ideias para maior divulgação e fortalecimento dos empreendedores locais.
“Todos sabemos o quão difícil é tentar ser tudo em um negócio. Precisamos ser 10 pessoas ao mesmo tempo e obviamente fracassamos. Por isso, é importante contar com apoio e buscar sempre a qualificação. Eu Acredito que possamos trabalhar e fazer com que essa parceria iniciada pelo “Da Nossa Terra” cresça e se transforme em uma referência regional”, conclui.
Serviço:
Sala do Empreendedor de Ponta Grossa está localizada dentro do prédio da Prefeitura Municipal, na Av. Visconde de Taunay, 905, no bairro da Ronda. Telefone: (42) 3220 1000: Ramal 1047
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