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Especialistas em saúde pública têm expressado preocupações crescentes sobre os cigarros eletrônicos, que, apesar de serem proibidos no Brasil desde 2009, continuam a ser amplamente consumidos, especialmente entre os jovens. Um novo estudo conduzido pelo Laboratório de Química Atmosférica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) traz à tona resultados alarmantes sobre a presença de metais tóxicos em vapes descartáveis.
A pesquisa, que analisou 15 dispositivos descartáveis, revelou concentrações excessivas de cobre, estanho, níquel e zinco. De acordo com Carlos Leonny Fragoso, doutorando em química e um dos responsáveis pelo estudo, esses níveis estão “muito acima do esperado para qualquer tipo de material que vai ser inalado”. O alerta é particularmente pertinente pois os metais foram detectados mesmo antes do uso do dispositivo.
Os pesquisadores também identificaram uma variedade de substâncias químicas adicionadas aos líquidos dos vapes, com o objetivo de intensificar o sabor. Dentre essas, algumas são comumente usadas na indústria alimentícia como aromatizantes, mas podem se mostrar prejudiciais à saúde quando inaladas. Isso inclui compostos como a vanilina e o mentol, que podem causar irritação nas vias aéreas.
Embora o estudo tenha encontrado níveis quantificáveis de metais apenas nos dispositivos descartáveis, a ausência desses contaminantes nos vapes recarregáveis não garante segurança. Fragoso enfatiza que a contaminação pode ocorrer assim que o líquido é acoplado ao circuito elétrico do dispositivo, ressaltando a necessidade de mais investigações sobre os riscos associados.
O impacto da inalação dessas substâncias tóxicas foi avaliado através de testes em células cardíacas de camundongos, onde todas as amostras causaram respostas de estresse oxidativo. Este processo está ligado a danos celulares e inflamações que podem contribuir para doenças crônicas, incluindo condições cardiovasculares e respiratórias.
Margareth Dalcolmo, pneumologista da Fiocruz e membro da Academia Nacional de Medicina, afirma que os vapes podem representar um risco maior à saúde do que os cigarros convencionais. Ela destaca que a concentração de nicotina nos cigarros eletrônicos pode ser até cem vezes superior à dos cigarros tradicionais, aumentando a probabilidade de dependência rápida. “Tenho atendido adolescentes que relatam usar o vape imediatamente ao acordar”, revela Dalcolmo.
Além disso, ela menciona a existência da EVALI (Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico), uma condição reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e associada ao uso destes dispositivos. No entanto, o Brasil ainda carece de um registro formal para monitorar casos dessa doença.
A discussão sobre a regulamentação dos cigarros eletrônicos ganhou destaque recentemente com um Projeto de Lei (PL 5008/2023) em tramitação no Senado. Dalcolmo critica essa proposta, argumentando que a possível arrecadação em impostos seria insignificante comparada aos custos gerados por problemas de saúde decorrentes do uso desses produtos.
Por outro lado, representantes da indústria defendem a regulamentação como uma forma de melhorar a segurança dos produtos disponíveis no mercado. Lauro Anhezini, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo), argumenta que normas adequadas poderiam reduzir riscos associados aos dispositivos atualmente contrabandeados e não regulamentados no país.
À medida que o debate continua, o consenso entre especialistas é claro: mais pesquisas são necessárias para entender plenamente os riscos associados ao uso dos cigarros eletrônicos e proteger a saúde pública diante desse crescente fenômeno.
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