Nos anos de 1990, faltou gasolina nos postos de combustíveis. Sobrou na cabeça das pessoas o temor em ficar sem alguma coisa que nos move. Não me interessa voltar aos motivos, ao contexto social, econômico ou político. Máquina é uma engenhoca muito racional ou lhe dão comida ou não funcionam, carros são assim.
E na fila de tantos postos, um homem procurava por um pedaço de papel para meticulosamente explicar à sua amada (não mais tão amada) que aproveitara aquela fila para lhe escrever e dizer que tudo que viveram juntos foi muito bom e para a maioria dos homens seria o bastante para ser feliz, mas que para ele não era… E o pequeno percentual da excelência não alcançada não lhe permitia continuar.
E eu que não tinha carro para arrastar até uma fila a tentar abastecer um tanque faminto, fiquei sedenta de compreensão das motivações do arrogante recado. Li, reli, novamente li. Faltou gasolina nos anos 90, faltou boa vontade para aquele coração e de ambos não quero saber dos motivos.
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Autoria: Renata Regis Florisbelo