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Olhos voltados para o céu: Observatório Astronômico da UEPG aborda ocultações estelares

A plateia, repleta de olhares curiosos, acompanhava a palestra sobre ocultações estelares com atenção. Alunos, professores, servidores e comunidade externa lotaram o auditório do Observatório Astronômico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), na quarta-feira (10), para saber mais sobre astronomia e, também, sobre uma descoberta científica que repercutiu mundialmente nos últimos dias de abril: a descoberta de anéis ao redor de Quaoar. A conversa foi com Chrystian Luciano Pereira, egresso da UEPG que liderou o estudo.

Ao fim da palestra, duas pequenas mãos estenderam um caderno escolar, repleto de anotações cuidadosas sobre a palestra. “Ele gosta muito de astronomia. Você daria um autógrafo?”, intermediou a mãe. Era difícil saber qual sorriso se estendia mais pelos rostos: do astrônomo, animado com o reconhecimento; da criança, quando recebeu o caderno assinado por um ídolo; da mãe orgulhosa. “A gente gosta de planetas, do espaço”, contou Emanuel de Matos Dias, 9 anos, que estava acompanhado pelo amigo Vitor Miguel Freitas. No 4º ano do Ensino Fundamental, a escolha profissional ainda está longe de acontecer, mas para Emanuel não há dúvidas: “eu quero ser astrônomo”.

Há 37 anos, outra criança olhava para o céu com olhos cheios de admiração, durante a passagem do cometa Halley. O Observatório Astronômico da UEPG organizou um evento, na época, para fazer a observação no Aeroporto de Ponta Grossa, em parceria com o Departamento de Geociências. Hoje, aquela criança admirada é chefe deste mesmo departamento e diretor do Observatório: o professor Marcelo Emílio. “Eu vi o cometa Halley na época e me despertou a curiosidade”, lembra o professor, que se tornou um pesquisador de renome na física solar, com estudos em astrometria solar e astrofísica estelar, mas também com um trabalho de formação de novos cientistas na UEPG. “Eu fui incentivado, quando criança, e hoje tenho a oportunidade de incentivar futuras carreiras”, comemora.

Cientistas de renome no campo da astronomia egressos da UEPG desenvolvem pesquisas em todo o mundo. A descoberta de um exoplaneta, pesquisas sobre astrobiologia e a recente descoberta dos anéis de Quaoar são exemplos de ciência de ponta desenvolvida por alunos e ex-alunos da Universidade. “Estamos formando uma geração de cientistas”, declara, orgulhoso, o professor Marcelo Emilio. Tem especial destaque a estrutura do Observatório Astronômico, que permite aos alunos ter contato com softwares utilizados nos mais importantes centros de pesquisa do mundo. “O Observatório da UEPG é um dos melhores observatórios didáticos do Brasil. É com satisfação que eu vejo que o empenho de vários anos de formar e treinar alunos está dando resultado”.

O que está oculto no céu

Uma pequena luneta foi, para Chrystian Luciano Pereira, o início de uma paixão pela astronomia. Ele participou, durante o Ensino Médio, da Olimpíada Brasileira de Astronomia e passou a estudar mais sobre o tema. “Por volta de 2008 eu criei meu próprio blog com notícias astronômicas variadas, além de acompanhamento de chuvas de meteoros”. Quando iniciou o curso de Licenciatura em Física na UEPG, foi a oportunidade de realizar o sonho de estudar mais a fundo os fenômenos que acontecem no universo, primeiro como aluno de Iniciação Científica, depois como pesquisador voluntário.

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Durante o mestrado em Física e Astronomia, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (PPGFA – UTFPR/CT), Chrystian buscou aneis ao redor de um pequeno corpo celeste, chamado Chiron, orientado pelo professor Marcelo Emilio e pelo professor Felipe Braga Ribas. “Os resultados obtidos na minha tese fazem parte de um artigo submetido em Abril de 2023 na Astronomy & Astrophysics também”, conta. Agora, ele cursa o doutorado em Astronomia do Observatório Nacional (Rio de Janeiro), onde desenvolve pesquisas sobre a presença de anéis ao redor de pequenos corpos do Sistema Solar.

Uma série de telescópios apontam para o céu ao mesmo tempo, em vários lugares do mundo. Até telescópios amadores entram no grupo. O objetivo é observar ocultações estelares: quando um corpo do Sistema Solar passa na frente de uma estrela, bloqueando sua luz para um observador na Terra. “Como esses corpos são muito pequenos e estão muito distantes, sua observação direta, mesmo com grandes telescópios na Terra e no espaço, não permite que as suas propriedades físicas (tamanho, forma) sejam determinadas com precisão”, explica Chrystian.

A explicação também foi dada ao auditório concentrado no Observatório na última Noite com as Estrelas. Com vídeos, fotos e gráficos, o público foi construindo um entendimento de como se faz para calcular coisas tão complexas. “Com vários observadores sob a sombra do objeto, podemos determinar a forma e o tamanho do corpo ocultador, com precisão da ordem de dezenas de metros. Além disso, se um desses pequenos corpos possui anéis, vemos pequenas quedas parciais antes e depois da ocultação pelo corpo principal, o que pode ser o indicativo da presença de anéis e até pequenas luas”, complementa Chrystian.

Trabalhar junto com cientistas renomados e realizar grandes descobertas científicas é, para o astrônomo, um sonho realizado. “Desde o meu primeiro contato com a técnica de ocultações estelares, eu acessava artigos de cientistas renomados nessa área e ficava imaginando quando que eu conseguiria trabalhar com eles, publicar descobertas como eles, tê-los como colegas de trabalho”, diz Chrystian. Hoje, o grupo de pesquisa do qual ele faz parte conta com pesquisadores de diversas instituições brasileiras, como a Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Observatório do Valongo e Observatório Nacional e Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). “O Grupo do Rio é apenas um dos três pilares do Projeto “Lucky Star”, que é liderado pelo Dr. Bruno Sicardy (Paris, França), além de pesquisadores de Granada, Espanha”, adiciona.

Para Chrystian, voltar à UEPG é retornar à base de sua formação. “O Observatório Astronômico da UEPG teve o papel mais importante na escolha da minha carreira acadêmica, uma vez que o observatório fez (e ainda faz) parte de várias publicações internacionais de prestígio, incluindo a primeira descoberta de anel ao redor de um asteróide, o Chariklo, publicado na revista Nature em 2014″, lembra. “O sucesso do Observatório e, também do professor Marcelo, com certeza foi o que mais me influenciou na minha trajetória na astronomia”.

Uma noite para observar as estrelas

A previsão do tempo deixava dúvidas: será que haveria condições de fazer a observação noturna do céu após a palestra? No fim das contas, as condições não eram as melhores, mas as nuvens sumiram e permitiram aos participantes do evento dar uma espiada em formações de estrelas, como a Caixa de Joias, aglomerado estelar que reúne pontos coloridos de luz. “Esse esquema de trazer as pessoas para a palestra e depois ter a observação noturna é bem legal, porque as pessoas conseguem satisfazer a curiosidade e também ter a palestra”, avalia o professor Marcelo Emílio. Ele saiu satisfeito do evento, que contou com alunos e ex-alunos da UEPG, mas também com bastantes participantes da comunidade externa e crianças.

“A astronomia chama muita atenção. Todo mundo já olhou para o céu um dia, gosta ou tem curiosidade”, comenta o doutorando em Ciências – Física pela UEPG, Matheus Leal Castanheira. Para ele, a principal importância desse tipo de atividade é gerar interesse na comunidade e motivar as pessoas a conhecerem e entenderem mais sobre astronomia. “Também é importante levar para fora o que a gente produz dentro da Universidade, quebrar um pouco essas paredes que às vezes se formam entre a comunidade externa e a parte acadêmica”.


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