Há 12 dias que mais de 100 funcionários da Central Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, estão presos no interior das instalações, assim como os 200 guardas ucranianos que ali se encontravam no momento da invasão russa. Os trabalhadores operam os equipamentos, mas os familiares alertam para a tensão dentro das instalações, por causa da limitação de acesso a alimentos e medicamentos.
A central foi palco do pior desastre nuclear do mundo em 1986. Desligada desde então, continua a necessitar de um conjunto de trabalhadores que monitoram os níveis de radioatividade. Foi essa equipe de mais de 100 trabalhadores que estava de serviço que acabou retida no interior das instalações, quando as tropas russas cercaram a área. Soldados russos estão dentro da zona de exclusão de Chernobyl, de 32 quilômetros, e cercam o perímetro da central.
Familiares
De acordo com relatos de familiares, os técnicos têm comida, mas não sabem por quanto tempo e “limitam-se a uma refeição por dia”. Essas refeições são preparadas por cozinheiros, também retidos, e têm como base pão e papas de aveia ou trigo. Os militares russos oferecem alimentos, mas os trabalhadores recusam, argumentando que a entrega seria utilizada como propaganda.
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“A situação é complicada e tensa”, afirmou Yuri Fomichev, presidente do município de Slavutych. “É difícil para eles moral, física e psicologicamente”, observou.
As áreas de trabalho dos técnicos não têm acomodações para dormir. Por isso, têm sido improvisadas camas em mesas e no chão. Eles se organizam por turnos, mas Yuri Fomichev alerta para a falta de condições e corte de medicamentos.
“Alguns dos trabalhadores precisam de medicamentos que são limitados na fábrica, o que aumenta a preocupação dos parentes”, disse Fomichev.
Os militares russos se disponibilizaram para a troca de turno, mas advertiram que não garantem a segurança no regresso à casa, nem aos trabalhadores que viajariam para as instalações. O comboio que faz o transponte entre a localidade de Slavutych, onde moram os trabalhadores, e Chernobyl atravessa o território bielorrusso, aliado da Rússia. A ansiedade aumenta e o temor é de que isso altere a capacidade de operar os equipamentos em segurança.
“Nessas condições, a concentração dos trabalhadores fica cada vez pior e isso é uma ameaça à segurança”, alertou Fomichev. “Pode já não ser uma central de energia nuclear em laboração, mas ainda requer muita atenção para garantir que todos os sistemas funcionem normalmente”.
Os familiares manifestam muita inquietação e advertem: “Todos os funcionários estão super exaustos e desesperados. Duvidam que alguém se importe com eles. De momento, não veem ninguém fazendo nada para resgatá-los”.
“Temos que lhes dizer que atualmente não há uma maneira segura de tirar os trabalhadores de lá”, disse Fomichev.
O diretor da Agência Internacional de Energia Atómica, Rafael Grossi, garantiu que está em contato com as duas partes para garantir a segurança, tanto em Chernobyl quanto nas outras centrais nucleares que se encontram em funcionamento na Ucrânia. No entanto, os lados russo e ucraniano não chegaram a acordo. Atualmente, Chernobyl emprega cerca de 2,4 mil pessoas, entre cientistas, técnicos, cozinheiros, médicos e outros funcionários de apoio, além de integrantes da guarda nacional.