A Quarta-Feira de Cinzas é um marco significativo no calendário cristão, representando o término das festividades do Carnaval e o início de um período de introspecção e reflexão conhecido como Quaresma.
Durante as celebrações litúrgicas desse dia, os fiéis recebem uma imposição de cinzas na testa ou na cabeça, em um gesto que carrega um profundo simbolismo. O sacerdote pode escolher entre duas frases ao realizar esse ritual: “Convertei-vos e crede no Evangelho”, que convoca à transformação espiritual e à renúncia de prazeres em prol de uma vida mais próxima de Deus; ou “Das cinzas vieste, às cinzas retornarás”, que remete à efemeridade da vida humana.
Filipe Domingues, vaticanista e professor na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, explica que essas duas expressões encapsulam os significados principais associados às cinzas. Mirticeli Medeiros, historiadora e também professora na mesma instituição, complementa que a tradição das cinzas remonta aos séculos III e IV, quando cristãos utilizavam-nas como um sinal público de penitência antes do início da Quaresma.
O historiador e teólogo Gerson Leite de Moraes destaca que a Quarta-Feira de Cinzas surgiu nas comunidades cristãs primitivas como um momento inaugural da preparação para a Páscoa. Ele ressalta que esta época convida os fiéis à reflexão, ao arrependimento e à renovação espiritual.
A cerimônia foi formalizada pelo Papa Gregório Magno entre os séculos VI e VII, recebendo o nome de “capite ieiunii” ou “dia do jejum”. Nos primórdios, essa prática era realizada em silêncio e pessoalmente pelo papa durante uma procissão ao redor da Basílica de Santa Anastácia e Santa Sabina em Roma.
As cinzas utilizadas nesse rito têm sua origem nas folhas do Domingo de Ramos do ano anterior, que são queimadas e abençoadas. Segundo a tradição católica, essa prática não só representa a continuidade da liturgia cristã, mas também enfatiza o ciclo da vida espiritual dos fiéis.
Além disso, as cinzas têm um papel simbólico importante. Domingues explica que elas evocam a fragilidade da vida humana diante da grandeza divina e promovem uma reflexão sobre arrependimento e penitência. O padre Eugênio Ferreira de Lima destaca várias passagens bíblicas que sustentam essa prática, ressaltando que o uso das cinzas é associado tanto à purificação quanto à lembrança da transitoriedade da existência.
A liturgia da Quarta-Feira de Cinzas não é amplamente observada entre igrejas protestantes e evangélicas. Enquanto algumas denominações reconhecem a Quaresma, a forma como é celebrada varia consideravelmente entre as diferentes tradições religiosas. Igrejas protestantes mais litúrgicas podem fazer referência ao período quaresmal, enquanto outras denominações evangélicas tendem a não valorizar essa prática.
Em suma, a Quarta-Feira de Cinzas não apenas marca o início de um tempo de reflexão espiritual para os católicos, mas também serve como um convite à autorreflexão sobre a vida e os valores pessoais dentro do contexto cristão.
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