O ano parecia não ter começado. Entrou janeiro, fevereiro, março e não havia um calendário para lhe fazer gentil espelhamento de cada mês. O desconforto começou no ano anterior. Aquele ano, o anterior a este que quase já foi embora e daqui a pouco já será o anterior do anterior, não recebeu a visita de um novo calendário. Um descuido de quem deixou que o ano escoasse sobre si mesmo sem se refletir nas folhas do papel impresso. Senti culpa, tanto descaso deixar o ano sozinho. Fui displicente e agora ele acaba sem calendário. Temo que nunca mais me perdoe e daqui a uns vintes anos venha me cobrar pelo buraco cravado no vão do tempo quando falta, feito o regente na batuta da orquestra que não veio. Em cada dia a displicência e a indolência a minar a autoconfiança em ser merecedora do tempo que por mim passou afetado pelo que não foi marcado. Sem remorsos, sem restrições por eu não ter sido camarada contigo, calendário amigo, não me abandone, também me consome a ausência das tuas folhas.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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