Um dia lhe entreguei aquele par de sapatos. O mais bonito que eu tinha, meu melhor sapato. Lá na sua casa eles ficaram escondidos, jamais seriam usados por você, nunca se encaixariam em seus pés. Confinados numa caixa ou largados na bagunça de um guarda-roupa solitário, muito provavelmente, agora estão. Nunca lhe ofereci meus sapatos, foi você quem insistiu para ficar com eles. Não tenho mais amor nem meus sapatos. Você não tem mais amor e lhe sobram os meus sapatos, que levaram embora meu colorido, muito embora você mesmo só use pretos. Meus sapatos confinados contigo estão. Imagino que um dia você se livrará deles, talvez os atire pela janela do apartamento e alguém vai achar que chove sapatos. Eram meus pés que os calçavam quando estávamos juntos. Não lamento, eles serviram a um feliz intento. Meu único tormento é que eles caíram em total esquecimento, são uma valsa sem acompanhamento.
Autoria: Renata Regis Florisbelo