O brasileiro Glover Teixeira, 42, conquistou o cinturão dos meio-pesados do UFC (Ultimate Fighting Championship) neste sábado (30), com uma vitória por finalização sobre o polonês Jan Blachowicz, 38.
O combate foi realizado em Adu Dhabi, na arena conhecida como Ilha da Luta, que sediou o UFC 267. No segundo round, Glover superou o polonês por estrangulamento para se tornar o segundo campeão mais velho na organização de MMA. O líder nessa estatística é o americano Randy Couture, que o fez aos 45 anos.
“Não tenho palavras para descrever isso”, disse Glover após a vitória. Devido à idade, o brasileiro via a chance como última de sua carreira.
“Quando veio a pandemia, eu tive de parar de treinar, fiquei isolado naquele tédio e foi aí que eu comecei a ler. Eu percebi que a gente não tem o controle de nada nesta vida e comecei a mudar o meu astral, relaxei e me dediquei à reflexão sobre a vida”, contou durante a preparação para o combate em Adu Dhabi.
A “Autobiografia de um Iogue”, escrita por Paramahansa Yogananda (1893-1952), um indiano que difundiu a ioga nos EUA na primeira metade do século 20, esteve na cabeceira do brasileiro durante o último mês.
“Acredito que perdi algumas lutas por causa de muito treino, por ter passado o limite, que é o overtraining. Tenho certeza que tive alguns problemas com isso”, afirmou Glover. “Agora, eu consigo treinar melhor e me focar mais. Com a leitura, eu tiro todos aqueles pensamentos sem pé nem cabeça, que vão e voltam.”
Na época em que lutou contra Jon Jones, ele chegava a fazer até nove treinos por semana em alta intensidade. Atualmente, para preservar seu corpo, alterna entre três treinos fortes e três com exercícios mais leves.
Há ainda um cuidado maior com a alimentação e, sobretudo, com os períodos de descanso. Disciplina é a palavra que ele mais gosta de enfatizar, inclusive para os alunos da academia que montou em Danbury, no estado de Connecticut, nos EUA, onde mora desde 1999, quando chegou como imigrante ilegal.
Glover tinha entre 17 e 18 anos quando decidiu deixar a cidade de Sobrália, a cerca de 300 km de Belo Horizonte, em Minas Gerais, rumo aos Estados Unidos. Ele entrou no país atravessando a fronteira pelo México, com ajuda de “coiotes”, que vendem a travessia ilegal.
Depois de deixar a terra natal, ele passou pela Colômbia, viajou até a Guatemala, de onde partiu de carro para cruzar o México até a cidade de Tijuana, local em que ficou 13 dias esperando a neblina baixar para conseguir passar pelo deserto.
Em 2008, o lutador perdeu a chance de assinar um contrato com o UFC por sua condição de ilegal no país. Ele acabou deportado quando as autoridades locais tiveram conhecimento da situação.
De volta ao Brasil, ficou três anos em Sobrália, até o fim de 2011, período que durou o trâmite burocrático, incluindo o pagamento de uma multa, até conseguir o green card, visto que permite a estrangeiros residir e trabalhar permanentemente nos EUA.
Com a situação regularizada, o brasileiro, enfim, pôde assinar contrato com o UFC. Hoje, o cartel dele tem 33 vitórias e 7 derrotas, além do título de campeão dos meio-pesados.
Os outros brasileiros que detêm títulos do UFC atualmente são Charles do Bronx e Amanda Nunes.