Eles vieram da China. Comprados numa loja de coisas genéricas úteis e inúteis perto da sua casa. Eram fofos e confortáveis apesar do meu olhar de soslaio para a durabilidade. Imediatamente ponderando sobre a duração das coisas genéricas úteis e inúteis e nós, inclusive, esperaria eu ser mais do que uma coisa útil e nem tão genérica assim. Voltemos aos chinelos, ao aportar no teu lar lá estavam eles.
Desçamos dos saltos altos para nos revelarmos na fragilidade dos singelos chinelos. O amor é capaz de calçar chinelos e também de tirar quando nada mais cabe no corpo a lhe atrapalhar. Horas a fio e eles esquecidos, no afã do amor nem fariam sentido. Depois da última partida eu fui e eles ficaram. Talvez repousem os pés de outra pessoa, afinal nunca foram meus.
Os protagonistas são os chinelos e não eu, nem você que fomos pés avulsos, desparelhados, muito mais do que ao mesmo conjunto arregimentados. Eu, pé solto por aqui, você, pé solto por aí, juntos duramos muito menos do que o chinelo chinês.
Leia também: Palavrões, por Renata Regis Florisbelo
Autoria: Renata Regis Florisbelo