Ponta Grossa

Curso de Português para migrantes e refugiados inicia segunda turma na UEPG

Divulgação
As aulas são ministradas toda sexta-feira, com famílias que buscam na educação a forma de se integrar na sociedade e a chance do recomeço

Olhos atentos ao quadro. A professora pede que os alunos repitam “massa”, “pássaro”, “carrinho”. Poderia ser uma aula para crianças na alfabetização, mas nesta turma de mais de 100 pessoas é a chance do recomeço. Em junho, o Projeto Processos Migratórios e Intercâmbio: Inclusão Social e Diversidade Cultural (Promigra) iniciou as aulas de Português para migrantes e refugiados na Universidade Estadual de Ponta Grossa. É a segunda edição da iniciativa, que acontece há dois anos. Na UEPG, as aulas são ministradas toda sexta-feira, com famílias que buscam na educação a forma de se integrar na sociedade.

A professora, de frente para o quadro, consegue enxergar uma diversidade na turma. São mulheres e homens e todas as idades e etnias, a maioria venezuelanos, haitianos, egípcios e afegãos. Muitos chegam de uniforme do trabalho, com os filhos pequenos no colo. Na carteira, com as folhas das atividades avaliativas, as crianças preenchem junto com os pais as questões. No meio do grupo, estava a venezuelana Rima el Khuffach da Silva. O sotaque da língua espanhola não a impediu de expressar a felicidade por aprender o Português. “Eu tô gostando muito, muito, muito”, disse sorrindo.

Mesmo em Ponta Grossa há pouco mais de três anos, era a primeira vez dela dentro da UEPG. “Na Venezuela, eu sou formada em Informática e aqui espero que aceitem meu diploma, também já fiz cursos de Excel Avançado e de empilhadeira no Senat”, conta. A esperança para conseguir um emprego no Brasil está, agora, depositada nas aulas de português do Promigra.

Ver no Projeto uma oportunidade de nova vida é um dos motivos da professora Lenir Mainardes, coordenadora do Promigra, fazer questão das aulas serem nas salas da UEPG. “Aqui é uma referência para o município, é uma instituição que tem credibilidade, e por isso é importante esse movimento de trazer a comunidade migrante e refugiada para dentro, porque acabam conhecendo a estrutura, e muitos veem que a realidade do ensino superior também pode ser para eles”. Comprovar o Português é essencial para que famílias consigam a naturalização, já que o Governo Federal exige comprovação de conhecimentos em Língua Portuguesa, com certificados emitidos por uma instituição reconhecida. Na região, apenas a UEPG oferece o curso para migrantes.

“E é por isso que esta segunda turma fez tanto sucesso, lotamos três salas, com várias famílias. Eles foram chegando e tratamos de acomodá-los todos para garantir que tivessem aula”, sorri Lenir. Nem só de Português o Promigra trabalha. Juntamente com a Cáritas Diocesana, parceira do Projeto, as famílias podem contar com encontros culturais, debates sobre direitos e grupos de estudos. “Nós poderíamos fazer em outro lugar esse curso, mas o fato deles estarem aqui dentro da instituição é muito bom para nós e para eles”.

Muitos migrantes chegam ao Brasil com ensino superior e procuram o Promigra para informações sobre revalidação do diploma, como no caso de Rima. Dentro do possível, a equipe da UEPG orienta para que eles se sintam cada vez mais integrados à realidade. “Ponta Grossa tem recebido um número expressivo de migrantes, e precisamos inseri-los na cidade, no mercado de trabalho e na Universidade. Nós não podemos fechar os olhos, temos que ficar atentos a esta nova dinâmica e acolhê-los, porque isso também faz parte da extensão, um dos nossos pilares”, complementa Lenir.

Trabalho

A primeira turma do Promigra aconteceu de setembro de 2022 a abril de 2023, com formatura para os concluintes do curso de Português no Grande Auditório, em junho do ano passado. A professora Pascoalina de Oliveira Saleh está junto do projeto desde o início. “É uma experiência ao mesmo tempo desafiadora, tanto pela diversidade de línguas e culturas, como pelo fato de que há várias mães e famílias que trazem seus filhos menores, inclusive bebês. Também é muito gratificante, pelo empenho e reconhecimento que os migrantes demonstram pelo curso”.

Pascoalina é uma professora atenciosa. Vai à carteira explicar ao aluno, caso haja dúvidas, e o retorno da turma é sempre positivo, segundo ela. “Os alunos são muito interessados em aprender. São participativos e vários chegam às aulas com todas as atividades respondidas, do material impresso que havíamos passado para eles”. As aulas se baseiam principalmente no material didático ‘Portas Abertas: Português para Imigrantes’, fruto de uma parceria entre o Centro de Línguas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e o Projeto de Extensão MemoRef, da Universidade Federal de São Paulo. “A metodologia do Portas Abertas é voltada ao ensino da língua portuguesa como língua de acolhimento, de acesso aos serviços públicos, como meio de integração local e inclusão no mercado de trabalho”, informa a professora.

O curso de Língua Portuguesa contribui para promover a defesa dos direitos fundamentais da comunidade de migrantes que enfrentam dificuldades ao se inserirem em um país com língua e costumes diferentes dos seus. “Por isso, a iniciativa visa contribuir para que seja cumprido o que estabelece a Lei de Migração, que assegura os direitos dos migrantes, refugiados e intercambistas. A oferta do curso nas dependências da UEPG favorece o contato com a comunidade universitária e a troca cultural, beneficiando ambos os lados, além do acesso à informação”, completa Pascoalina.

Maravilhada com a estrutura da UEPG, Rima é um dos exemplos da diferença que a Universidade pode mudar vidas. No intervalo da aula, ela brilha os olhos quando perguntada sobre o que achou de estar no Campus Central. “Agora que tô aqui, pretendo também estudar um curso da Universidade, quero fazer outra carreira, quem sabe estudar Letras, para aprender vários idiomas”, termina.

Leia mais: UEPG abre mais de 4 mil vagas para novas graduações EaD


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