Quando a pandemia começou a dar sinais de algum fundamento, Olégario pensou que poderia ser boa coisa começar a usar aquele álcool em gel que passou a aparecer plantado em todos os lugares do dia para a noite. Nunca havia usado, aliás, lhe dava a impressão de uma completa frescura. Num balcão de espera disfarçou, e bombeou o dispenser do frasco para abocanhar uma porção daquela gosma. A dose espirrou gelada em sua mão.
Esfregou uma mão na outra e aquela meleca foi se absorvendo e espalhando suavemente numa deliciosa sensação. Mal conseguiu disfarçar tamanho o súbito gozo com aquele jorro atrevido do álcool. Passou no mercado ao lado e apanhou três frascos. Onde quer que estivesse passou a usar repetidamente o álcool em gel e a coisa foi se agigantando.
Em pouco tempo não era mais somente nas mãos, arregaçava as mangas e subia quase até os ombros. Erguia as pernas das calças e besuntava com mais e mais álcool em gel e já eram galões agora comprados. Ao banheiro estava reservada a melhor parte, um tonel de cinquenta litros do qual ele apanhava com uma caneca as várias porções para cobrir o corpo todo, da cabeça aos pés, dos pés à cabeça.
E aquele gelado prazeroso ia subindo-lhe o corpo, tomando cada fresta da pele e se convertendo em delírio de prazer. Não acompanhava as estatísticas, não sabia quantos mortos nem quantos convalescidos havia, só lhe interessava o êxtase corporal que o tal álcool lhe provocava sem nada, produzir sensação igual.
Autoria: Renata Regis Florisbelo