Na última semana, a centenária Lidoina Cardozo Guimarães, carinhosamente conhecida como Dona Julieta, celebrou seu 104º aniversário na emblemática Estação Saudade, em Ponta Grossa. Este local não é apenas uma estação de trem; é o ponto onde, há 72 anos, Dona Julieta desembarcou com seus três filhos pequenos, em busca de um futuro melhor.
Nascida em 15 de maio de 1921 no norte do Rio Grande do Sul, Dona Julieta tomou a corajosa decisão de deixar seu estado natal após enfrentar a dura realidade de ter sido abandonada pelo marido. Em 1953, sem saber ler ou escrever e sem conhecer ninguém no Paraná, ela embarcou em um trem em Carazinho com suas crianças — uma de três anos, outra de cinco e a mais velha de sete. A jornada até Ponta Grossa significava percorrer cerca de 570 quilômetros.
Ao chegar, foi acolhida por um militar que disponibilizou uma casa vazia para abrigar sua família. Com determinação e resiliência, Dona Julieta trabalhou em diversos serviços ao longo dos anos para sustentar os filhos, atuando como babá, empregada doméstica e lavadeira. O esforço não foi em vão; todos os três filhos conseguiram se graduar na universidade e constituíram suas próprias famílias.
Hoje, aos 104 anos, Dona Julieta é mãe de três filhos, avó de doze netos, bisavó de treze bisnetos e tataravó de cinco tataranetos. A festa de aniversário, realizada no dia 18 de maio, foi marcada por momentos emocionantes em que ela revisitou os espaços da estação que simbolizam o início de sua nova vida.
A visita à antiga estação foi uma verdadeira viagem no tempo para Dona Julieta. Mesmo contando com a ajuda ocasional de uma cadeira de rodas para locomoção, ela teve a oportunidade de relembrar os momentos significativos que marcaram sua trajetória. O reencontro com parte da família neste lugar especial trouxe à tona memórias que permanecem vivas em seu coração.
História da Estação Saudade
A Estação Saudade foi inaugurada em 1899 e fez parte de uma das principais rotas ferroviárias do Brasil durante os séculos XIX e XX. Após anos servindo como ponto vital para viagens e comércio, a estação foi desativada em 1990 e reconhecida como patrimônio cultural do Paraná no mesmo ano.
Em 1997 recebeu o nome “Estação Saudade” e funcionou como sede da biblioteca pública municipal entre 2004 e 2012. Após um período sem uso adequado, o espaço foi revitalizado pelo Sesc (Serviço Social do Comércio) e reinaugurado em 2019 como uma unidade cultural-profissionalizante. Hoje, abriga um museu ferroviário, um café-escola, salas para cursos e uma biblioteca.
O legado da Estação Saudade continua vivo através das histórias como a de Dona Julieta, que é um testemunho da força e resiliência das mulheres ao longo da história.
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