Quando tomei conhecimento do fato já haviam se passado mais de trinta anos, porém
ao pote de mel o que teria acontecido?
Marlene contou que há trinta anos guardava um segredo por vergonha de confessar.
Chega um tempo, disparou ela, que os fatos ocultados vão pesando como se fossem
pedras amarradas ao pescoço de quem tenta flutuar. Impossível carregar. Os olhos
grandes voltados para baixo, e ela disse que há trinta anos, quando conheceu
Gaudêncio, foi amor à primeira vista.
O medo da finitude pairava sobre seus temores, avolumando-os. Alguém ensinou uma simpatia para prender o namorado: escrever seu nome num papel e colocar dentro de um pote de mel embaixo da cama. Conseguiu um potinho minúsculo, que foi introduzido entre o estrado e lá se acomodou.
Gaudêncio, ao final destes últimos trinta anos, continuava sendo seu par. Daquele imóvel e daquela cama, há muito já havia se separado e perdido no tempo. O potinho com o nome embebido em mel nunca de lá tirou e é por isto que lhe assola a vergonha de pensar que o amado só está com ela porque o pote de mel lhe adocicou o coração.
Autoria: Renata Regis Florisbelo