O início do horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE) em rádio e TV no País, geralmente, cria uma expectativa nas pessoas a respeito do perfil das candidaturas apresentadas pelos partidos. E isso por diversas razões, seja porque o tempo do HGPE ficou menor a partir de 2016, mas também porque espera-se que o primeiro programa tenha força de imagem, trilha atrativa e, claro, o foco na figura de candidatos/as a prefeitura, sem esquecer da mensagem central pelo slogan ou mote que identifica a campanha com uma marca visual própria. A antecipação da campanha em peças curtas na internet (site e redes sociais) pode reduzir a expectativa, mas o fato é que o programa inicial mostra a ‘cara’ de uma proposta pelas próximas cinco semanas. E não resta dúvida que o horário eleitoral tem audiência, ainda que variável ao longo do período.
Aqui, vale situar que as coligações dos grupos políticos (econômicos, religiosos e também familiares) fizeram variados acordos para garantir um maior tempo no horário eleitoral e, pois, a distribuição está, como de hábito, longe de qualquer indicador de igualdade entre as candidaturas. Mas isso não é exclusividade de PG, pois ocorre em todo o Brasil.
O candidato apoiado pelo governo estadual – Marcelo Rangel concorre pelo PSD e tem apoio de 9 partidos – concentra 4’02” (4 minutos e dois segundos) dos 10 minutos do bloco que roda das 13 às 13h10 e das 20h30 às 20h40 na TV aberta. Já o candidato com apoio do governo federal, Aliel Machado (PV), tem coligação com 7 partidos e um tempo de 2’29” (dois minutos e vinte e nove segundos) no bloco. A atual prefeita, que disputa reeleição, foi vice do Rangel e eleita com apoio do ex-prefeito, concorre pelo União Brasil com apoio do MDB e tem 2’03” (dois minutos e três segundos) nos 10 minutos do turno. Mabel Canto, candidata pelo PSDB, com apoio do PP e Cidadania, tem 1’26” (um minuto e vinte e seis segundos). O candidato do Novo, Magno Zanellato, não tem espaço no HGPE, pois o partido não atinge a cláusula de barreira prevista na lei eleitoral.
À prima vista, nenhum jingle (trilha sonora que visa atrair eleitor) com ‘efeito chiclete’ – daqueles que grudam fácil – entre as músicas da campanha. A ver se, na repetição, alguma coisa pode mudar. O roteiro do programa, contudo, deixa a desejar, pois pouca coisa se destaca pela criatividade e alguma ousadia capaz de sair da simples propaganda, que insiste em vender o melhor dos mundos, se a respectiva candidatura prosperar.
A aposta em uma micronovela com briga familiar entre um jovem de camisa vermelha e um senhor de meia idade com a amarelinha surrada da CBF tenta anunciar um outro tempo com a ‘primavera de 2024’, graças à candidatura do deputado que concorre pelo PV. Talvez, o exagero na simplificação deixa impressão de uma fragilidade na ideia difícil de emplacar em um primeiro programa eleitoral televisivo. A sequência do programa parece dialogar pouco com a historinha que abre a edição. Dali em diante as imagens de felicidades e sorrisos com abraços toma boa parte do tempo da coligação.
O cenário da Praça arborizada em que a deputada estadual pelo PSDB abre o programa, com uma câmera passeando pela imagem da catedral, no centro de PG, é outro lugar comum, que apenas se segura ao mostrar pessoas simples que entram na sequência como “inspiração” da campanha, embora a música (quase religiosa) pouco ajuda na apresentação das candidatas a prefeita e vice. A direção do programa ainda deixa a vice passeando em frente da catedral para dizer que “PG é uma comunidade vibrante”: seria o ‘futuro da gente’ chegando pelo Jeep.
O programa da prefeita que busca a reeleição, no entanto, quase abusou da imagem de super-poder da chefia ao descrever o mandato como um tempo para “botar ordem na casa”: trabalhou, organizou, planejou, pagou, construiu, inaugurou… Enfim, o programa aposta em uma imagem um bocado distante do que se vê diuturnamente na Cidade, com ou sem a lenda do asfalto. O problema no caso estaria menos na ideia de roteiro (argumento) com cortes rápidos, talvez sugerindo uma certa agilidade de gestão, e mais no exagero, uma espécie de realidade simulada pela propaganda, que quase escapa para uma ficção.
E, por fim, o candidato com mais tempo no horário eleitoral traz para tela um retrato de cidade pujante com pleno desenvolvimento que teria existido, coincidentemente, nos 8 anos em que o mesmo (ex-prefeito) esteve no Palácio da Ronda (2013-2020): grandes obras, indústrias vieram a PG, prédios altos, investimentos bilionários em saúde e educação, dentre outras magnitudes, quase só registradas no ‘período mágico’, nem antes e nem depois. Daí, porque o candidato quer voltar e “fazer muito mais”. A suposta eficiência de gestão tenta, assim, esquecer de questionamentos que tramitam na justiça eleitoral e ameaçam inclusive a atual candidatura, por alguns ‘detalhes’ registrados exatamente no tal período da pujança desenvolvimentista que o primeiro programa da campanha mostra. A aposta em um estilo tradicional de propaganda eleitoral, neste caso, desafia a memória de moradores/eleitores de PG para rever se foi efetivamente isso tudo que rolou na Princesa dos Campos.
Resta aguardar e conferir se os próximos programas podem mostrar aos eleitores e eleitoras um pouco mais do plano de governo e da respectiva viabilidade de implantação para resolver os diversos problemas registrados pela população de PG. Obviamente, a diferença de tempo entre as candidaturas tem um limite simples, que facilita quem tem 4min e dificulta para quem trabalha com 1 minuto e meio. Mas a tarefa da produção dos programas pode reduzir um pouco a desigualdade, desde que consiga apostar na criatividade e ousadia editorial. A ver, pois, nos próximos capítulos! Fique ligado e nos ajude, aqui, a conferir, avaliar e desafiar as candidaturas para usar da melhor forma possível um espaço nobre no horário eleitoral em rádio e televisão nas próximas cinco semanas.
Sérgio Gadini, professor em Jornalismo, morador e eleitor em PG. E-mail: [email protected]
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