A taxa básica de juros brasileira, conhecida como Selic, completou três anos em patamares superiores a 10% ao ano, consolidando-se nesse intervalo desde fevereiro de 2023. De acordo com a mediana das expectativas dos agentes financeiros, projeta-se que a Selic aumente para 15% ainda este ano, com uma expectativa de queda para 12,75% em 2027.
Com as previsões atuais, é provável que o país permaneça por pelo menos mais dois anos nesse cenário de juros elevados, totalizando cinco anos consecutivos acima da marca de dois dígitos. Esta situação coloca o período em questão como o segundo maior ciclo de Selic elevada no século XXI.
Recentemente, a taxa sofreu um reajuste de 1 ponto percentual na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em 29 de janeiro de 2025, elevando-a para 13,25% ao ano. Este movimento representa o quarto aumento consecutivo da Selic. O Copom já anunciou uma nova elevação para 14,25% na próxima reunião programada para março.
A última vez que a Selic ficou abaixo dos 10% foi em fevereiro de 2022, quando o Banco Central ajustou a taxa de 9,25% para 10,75%. As altas constantes nos juros têm se alinhado a um desempenho econômico positivo. Em termos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil registrou uma alta de 3% em 2022 e espera-se um crescimento de 3,2% em 2023 e 3,5% em 2024, conforme as projeções do mercado.
Embora haja previsões de desaceleração econômica para 2025, a economia brasileira demonstra resiliência. A inflação permanece acima do intervalo estipulado pela meta, levando o Copom a manter sua política monetária contracionista.
Em seu Relatório Trimestral de Inflação divulgado em dezembro de 2024, o Banco Central indicou que a taxa neutra real de juros no Brasil está fixada em 5%. Essa variável é considerada sujeita a grandes incertezas em sua mensuração. Assim sendo, quando os juros reais superam esse nível, implica numa política monetária restritiva.
O economista Ecio Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destacou que as taxas de juros no Brasil e em outros países emergentes tendem a ser mais elevadas quando comparadas às economias avançadas como Estados Unidos e Zona do Euro. Isso se deve aos maiores riscos associados aos países emergentes, onde há alternância nas políticas econômicas e instabilidade nas instituições.
Costa também apontou que o aumento das taxas nos Estados Unidos tem refletido na realidade brasileira. Ele observou que uma redução significativa nos juros brasileiros poderia resultar numa fuga de investimentos estrangeiros devido à falta de atratividade frente às altas remunerações disponíveis nos mercados norte-americanos.
Adicionalmente, o economista argumentou que o crescimento observado nos últimos anos foi impulsionado por um forte impulso fiscal e programas sociais implementados durante a pandemia da COVID-19. Em 2023 e 2024, o Brasil enfrentou déficits fiscais superiores a R$ 200 bilhões anualmente.
A modernização do setor de serviços durante a pandemia também contribuiu para um desempenho econômico robusto. Costa ressaltou que as políticas adotadas durante o governo Jair Bolsonaro promoveram um aumento no crédito livre em detrimento dos empréstimos subsidiados. Ao mesmo tempo, ele alertou que a alta da Selic pode ser atenuada pela expansão do crédito direcionado.
Claudio Pires, sócio-diretor da MAG Investimentos, corroborou que os gastos públicos acelerados têm sido fundamentais para o desempenho econômico atual. Contudo, ele enfatizou que essa situação exige uma taxa de juros muito mais restritiva diante do crescimento das despesas governamentais.
Pires também mencionou que a desvalorização significativa do real frente ao dólar (28% no último ano) pressiona ainda mais a inflação. Portanto, o Banco Central terá que intensificar suas ações para mitigar os impactos dessa desvalorização na economia brasileira.
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