Seus olhos sempre foram vibrantes, um par que se adiantava às conversas e falava através do brilho. A profundidade do olhar era uma bússola que apontava para uma direção sempre favorável qualquer que fosse o ponto cardeal focado pela pupila rosa dos ventos. Um sorriso também cordial e carinhoso. Incontáveis vezes aquele olhar se espargiu pelo mundo e um pedaço do mundo se fez por eles. As décadas foram passando e alguma coisa intrusa tirou o brilho daquele olhar e carregou-o com melancolia. No lugar do tom de voz vibrante restou o silêncio, um vazio na ausência de ruídos alegres. Aquela mesma outrora vida foi se consumindo na desesperança. O corpo foi minguando feito a lua lasca de unha no céu, tornou-se réu nas forças perdidas, quase um corpo templo-mausoléu. Um adeus foi o que ficou junto à lembrança dos olhos que a memória amealhou.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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