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Psicóloga ensina como lidar com trauma transgeracional

Psicóloga ensina como lidar com trauma transgeracional
Psicóloga ensina como lidar com trauma transgeracional
Estudos indicam que eventos traumáticos afetam não apenas os diretamente envolvidos.

A população mundial tem vivenciado diariamente traumas coletivos, como os provocados por guerras, genocídios, desigualdades extremas, violências sociais, eventos climáticos severos e pandemias que criam uma conexão com o sofrimento alheio. No entanto, ao emergir nesses desafios globais, muitas vezes as pessoas esquecem de olhar para seus próprios traumas, que podem ser profundos e hereditários, conhecidos como traumas transgeracionais.

A psicóloga Cristina Florentino (CRP-SP 06-84874)  destaca que negligenciar dificulta o autoconhecimento e o manejo advindo dessas feridas. Além disso,  reforça que, ao enfrentar as dores do mundo, haja um tempo dedicado para compreender e tratar as histórias individuais de cada um, criando um espaço mental que equilibre o cuidado coletivo e o individual, essencial para uma sociedade mais saudável e evoluída.

Recentemente, uma matéria do G1, baseada na palestra de Julia Weinman, doutoranda da Universidade de Stanford, destacou que cerca de 90% das pessoas enfrentarão pelo menos um evento traumático ao longo da vida. Cristina afirma que a pesquisa sugere que, na velhice, a maioria das pessoas carregará marcas profundas de experiências passadas. Diante desse cenário, é fundamental desenvolver mecanismos para superar essas vivências. Diante desse reconhecimento tanto dos traumas coletivos quanto dos pessoais, é possível trilhar um caminho mais consciente em direção à cura e ao bem-estar, criando mais resiliência diante das adversidades.

Segundo a psicóloga, os traumas podem manifestar-se como episódios isolados, crônicos ou complexos e podem atravessar gerações, deixando marcas profundas no comportamento e nas emoções de indivíduos que nunca viveram os eventos diretamente. Esse fenômeno, conhecido como trauma transgeracional, tem sido amplamente investigado por meio de psicologia, neurociências e epigenética, revelando os impactos do sofrimento humano. 

A neurociência também oferece novas perspectivas sobre o tema. Pesquisas lideradas pela professora Rachel Yehuda mostram que experiências traumáticas podem moldar fisicamente o cérebro, influenciando as gerações seguintes. A teoria da neuroplasticidade sugere que traumas vividos pelos pais podem tornar os filhos mais vulneráveis a reações de estresse e ansiedade. 

Outra área promissora é a epigenética, que investigam como as experiências podem alterar a expressão dos genes sem modificar o DNA. Um estudo da revista Proceedings of the National Academy of Sciences demonstrou que ratos expostos a choques elétricos associados a um determinado cheiro transmitiram essa associação a seus descendentes, que reagiam ao odor com medo, mesmo sem terem vivenciado os choques. Isso sugere que marcadores de estresse podem ser “inscritos” geneticamente e transmitidos às gerações futuras.

“Embora esses mecanismos tenham se desenvolvido como formas de proteção, a hipervigilância pode se tornar prejudicial em contextos onde não há mais perigo real. Descendentes de pessoas que viveram em zonas de guerra podem herdar respostas exacerbadas a ruídos, vivendo em um estado de alerta constante”, destaca Cristina

A psicóloga afirma que esses estudos abrem novas discussões sobre o tratamento de traumas. Técnicas que integram psicologia, neurociência e epigenética estão sendo desenvolvidas para ajudar as pessoas a processarem traumas que muitas vezes não sabem que carregam: ” É fundamental que profissionais de saúde mental considerem a história familiar dos pacientes, pois as raízes do sofrimento frequentemente estão ligadas a traumas não resolvidos de gerações passadas. O desafio é transformar essas descobertas em práticas que ajudem a curar as feridas emocionais herdadas, criando um futuro menos marcado pelo sofrimento do passado. Essa jornada científica nos lembra que, assim como o trauma pode ser herdado, a resiliência e a cura também podem ser transmitidos, criando histórias para as futuras gerações”, conclui Florentino.

 


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