Brasil

Estímulos fiscais temporários pressionam inflação, diz Banco Central

 

A incerteza sobre o futuro da
política fiscal do país e os estímulos fiscais de aquecimento da economia, como
os auxílios dados pelo governo à população e a setores produtivos, pode elevar
a expectativa de inflação no país. A avaliação consta da ata da última reunião
do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), divulgada hoje
(9).

“O comitê avalia que políticas
temporárias de apoio à renda devem trazer estímulo à demanda agregada e que o
prolongamento de tais políticas pode elevar os prêmios de risco do país e as
expectativas de inflação à medida que pressionam a demanda agregada e pioram a
trajetória fiscal. O comitê reitera que há vários canais pelos quais a política
fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços
de ativos e expectativas de inflação

No encontro da semana passada, o
Copom elevou a taxa básica de juros da economia, a Selic, de 13,25% para 13,75%
ao ano e já sinalizou que deve fazer um ajuste de mais 0,25 ponto na próxima
reunião, em setembro, mantendo o ciclo de elevação da taxa de juros e aperto
monetário para controle da inflação.

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“Concluiu-se que um novo ajuste
de 0,50 ponto percentual era apropriado frente a um ambiente de elevada
incerteza, apesar do estágio já significativamente contracionista da política
monetária, que, considerando suas defasagens, deve impactar a economia mais
fortemente a partir do segundo semestre deste ano”, diz a ata.

O colegiado também considerou a
maior persistência das pressões inflacionárias globais, como os impactos da
guerra na Ucrânia, a política chinesa de combate à covid-19 e as políticas que
restringem o comércio de produtos agrícolas em países produtores de commodities.
Por outro lado, segundo o BC, uma desaceleração da atividade econômica mais
acentuada do que a projetada é um risco de baixa para o cenário inflacionário,
com o cenário de energia na Europa, uma possível recessão nos Estados Unidos e
as perspectivas de crescimento mais gradual na China.

No âmbito doméstico, o Copom
avalia que ainda há ociosidade na economia, mas os dados referentes ao mercado
de trabalho, em especial o volume de contratações e a taxa de desocupação,
surpreenderam. “O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgado
desde a última reunião do Copom segue indicando crescimento ao longo do segundo
trimestre, com uma retomada no mercado de trabalho mais forte do que era
esperada pelo comitê. Tanto os indicadores referentes à contratação de emprego
formal quanto as taxas de ocupação e desocupação sugerem uma normalização
rápida dos setores intensivos em trabalho após a pandemia”, diz a ata.

Para decidir sobre a elevação da
Selic, o comitê estabeleceu um cenário básico para a inflação, com as projeções
em torno de 6,8% para 2022, 4,6% para 2023 e 2,7% para 2024. As projeções para
a inflação de preços administrados são de -1,3% para 2022, 8,4% para 2023 e
3,6% para 2024.

Esse cenário supõe trajetória de
juros que termina 2022 em 13,75% ao ano, reduz-se para 11% em 2023 e 8% em
2024. O Copom adotou ainda a hipótese de bandeira tarifária “amarela”
em dezembro de 2022, de 2023 e de 2024 e a suposição de que o preço do petróleo
siga aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passe a
aumentar 2% ao ano posteriormente.

Inflação

A Selic é o principal instrumento
usado pelo Banco Central para alcançar a meta de inflação. A elevação da Selic,
que serve de referência para as demais taxas de juros no país, ajuda a
controlar a inflação, porque a taxa causa reflexos nos preços, já que juros
mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, contendo a demanda
aquecida.

A taxa está no maior nível desde
janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano. Esse foi o 12º reajuste
consecutivo na taxa Selic.

Em julho, a inflação medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi negativa em 0,68%, ou seja,
houve deflação. Apesar da queda no mês passado, a inflação oficial no país
acumula alta de 4,77% em 2022 e de 10,07% nos últimos 12 meses.

Os números continuam acima da
meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. A meta, definida pelo
Conselho Monetário Nacional, é de 3,5% para este ano, com intervalo de
tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite
inferior é de 2,25% e o superior de 5,25%.

“A inflação ao consumidor segue
elevada, com alta disseminada entre vários componentes, se mostrando mais
persistente que o antecipado. A redução de impostos sobre os preços de energia
já começa a ser observada nos indicadores de alta frequência, mas os
componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que
apresentam maior inércia inflacionária, mantêm-se acima do intervalo compatível
com o cumprimento da meta para a inflação”, diz o BC, na ata.


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