O empreendedorismo na terceira idade emerge como uma alternativa significativa tanto para aqueles que buscam novas realizações profissionais quanto para aqueles que necessitam de uma fonte adicional de renda. Segundo Rosiane Moreira, consultora de negócios do Sebrae, o setor de serviços se destaca como o mais atrativo para este público, com ênfase em áreas como consultoria, treinamento e artesanato.
Moreira observa que indivíduos com mais de 60 anos tendem a possuir uma maior maturidade nas decisões e uma disposição reduzida para evitar riscos. “Não existem barreiras em relação aos setores que esses empreendedores podem escolher; o fundamental é buscar um trabalho que proporcione satisfação”, enfatiza.
A especialista, que organiza eventos voltados à economia prateada no Sebrae, aponta que as áreas mais exploradas por esse grupo incluem:
- Consultoria
- Treinamento
- Artesanato
Independentemente do segmento escolhido, um planejamento sólido é essencial para mitigar riscos em fases mais vulneráveis da vida, como a maturidade. “Analisar o mercado, estudar a concorrência e elaborar um plano de negócios são etapas cruciais para reduzir incertezas”, explica Moreira.
Ela ressalta que um planejamento eficaz deve incluir a utilização de cursos online e tutoriais gratuitos, que podem ajudar a familiarizar os novos empreendedores com ferramentas digitais, redes sociais e marketplaces. Além disso, várias plataformas já estão adaptando suas interfaces para facilitar o uso por pessoas menos habituadas à tecnologia.
Instituições como o Sebrae oferecem cursos e consultorias sem custo, sendo essas iniciativas fundamentais para equipar novos empreendedores com informações atualizadas. “O acesso ao conhecimento é um diferencial significativo”, afirma Moreira, mencionando também programas direcionados a pessoas acima dos 60 anos.
Outro aspecto importante é o networking, que se torna ainda mais relevante nesta fase da vida. “Estabelecer conexões com outros empreendedores e compartilhar experiências pode facilitar a adaptação ao mercado”, acrescenta Moreira. Participar de grupos e eventos voltados ao empreendedorismo nesta faixa etária pode abrir portas e gerar oportunidades valiosas.
Embora o empreendedorismo seja frequentemente visto como uma forma de realização pessoal, a realidade para muitos empreendedores acima dos 60 anos no Brasil é mais complexa. Aposentada há seis anos após uma carreira de sucesso como bibliotecária, Laiza Menezes, de 69 anos, encontrou no artesanato uma nova vocação. Após 48 anos na Universidade Federal Fluminense (UFF), ela planejou se dedicar ao bordado e ao crochê. Durante a pandemia, começou a criar bonecas negras e descobriu um nicho de mercado carente: apenas 7% das bonecas vendidas no Brasil eram pretas. Essa constatação levou à criação da Abayomi em 2020, uma marca que hoje comercializa peças entre R$ 150 e R$ 250 em feiras renomadas do Rio de Janeiro.
Inicialmente conciliando a produção com seu antigo emprego, Laiza registrou sua empresa em 2022, estruturando suas finanças e precificação. “Hoje tenho um controle financeiro organizado”, afirma. Apesar das dificuldades com o universo digital – “nasci no mundo analógico” – ela celebra o crescimento da Abayomi, que teve um aumento de 30% no faturamento no último ano.
A história de Amauri Raizer, de 63 anos, ilustra outra faceta do empreendedorismo na maturidade. Após décadas atuando no comércio agropecuário, ele decidiu reinventar-se criando joias a partir de pedras naturais encontradas em sua propriedade rural. Em 2019, transformou esse hobby na Madam Joias, marca que hoje possui lojas em Bonito e Campo Grande.
Com um faturamento anual aproximado de R$ 500 mil, Raizer reconhece os desafios do mercado moderno: “A vida nos ensina muito, mas o mundo muda rapidamente”. Para se manter relevante, ele busca acompanhar tendências digitais e investe em seu aprendizado constante.
Paulo Feldmann, professor de economia da USP, observa que há uma tendência no Brasil de as empresas limitarem oportunidades para trabalhadores mais velhos. Ele aponta que muitos optam pelo empreendedorismo diante dessa realidade desfavorável. Esse movimento ganhou força durante a pandemia devido ao aumento do desemprego; no entanto, a alta da taxa de juros trouxe incertezas sobre novos investimentos.
Feldmann sugere políticas públicas que estimulem o empreendedorismo na terceira idade, como linhas de crédito facilitadas e incentivos fiscais semelhantes aos implementados em países como França e Japão. Ele conclui afirmando que se mais pessoas acima dos 60 anos se tornassem empreendedoras, isso poderia gerar um impacto econômico positivo significativo no Brasil.
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