Elemento estranho, um peixe que nada por outras águas, ainda pouco acostumado às revoltas ondas. Servia para prender, mas era ele quem primeiro se aprisionava a fim de também reter, agarrar firmemente. Assim ele vivia. Olhava para si mesmo sem encontrar outra opção que não fosse daquela cabeleira buscar a contenção. Era isso: viver preso ao couro cabeludo ou trancafiado numa caixa, em gavetas retido e esquecido. Nas cabeças das senhoras a enrolar cabelos em bobs de todos os tamanhos. Um paradoxo estético, para embelezar, antes, era necessário tornar meio estranho. Foi num mar de cabelos que vi os grampos sumirem, desaparecerem, brincarem escondidos de não deixar ninguém ver, dificultando o gesto de recolher. E as senhoras seguiam com seus grampos, a cabeça repleta deles e lenços cintilantes a cobrir e adornar. Quando olho para uma caixa com eles, não sei se apenas se escondem ou se dormem, esperando quem venha (esperando que eu venha ou esperando que venham) lhes acordar para a cabeça de outro alguém espetar.
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