Ladeira acima as pessoas subiam saracoteantes e cantantes. Ladeira abaixo, qual formiguinhas, voltavam em pares, bandos, avulsos os pedestres portando sacolas, muitas sacolas, até velhinhas já arcadas contendo uma meia dúzia delas em cada mão. Já era tarde naquela noite, fazia frio. Descia ladeira abaixo uma figura miúda, e o ar acabrunhado, olhava ao longe como quem fita o nada e portava uma única sacola plástica de mercado, daquelas tratadas como se fossem criminosas pela poluição nas ruas. Passei pela curiosa criatura e olhei discretamente, afinal ela tinha em sua frente uma criatura igualmente estranha, meu único salvo-conduto era não empunhar uma famigerada sacolinha. Olhando mais atentamente percebi que era um cachorro de rua que escolhera seu pacote de lixo preferido e o levava calmamente a um local reservado para um momento íntimo de destroçamento. Olhei para mim e eu não tinha ao menos a utilidade de fazer sumir o lixo.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
Leia também: Homem embriagado agride familiares e acaba preso em bairro de Ponta Grossa