Pela primeira vez, em 39 anos, a festa em honra a Nossa Senhora Aparecida no Santuário Diocesano não contou com procissão nem carreata.
As missas também acabaram suspensas neste dia 12 de outubro em função dos estragos causados pelo temporal que se abateu sobre Ponta Grossa na madrugada de ontem. Como em outros locais do Bairro Nova Rússia, o Santuário ficou sem energia elétrica e sem abastecimento de água. A única celebração mantida foi a Missa Solene das 15h, com o bispo Dom Sergio Arthur Braschi, que, para a segurança dos devotos, foi transferida para a Catedral Sant’Ana.
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E os devotos de Nossa Senhora Aparecida vieram. Os 1.800 lugares da igreja-mães da Diocese estavam tomados. “Minha preocupação era deixar que os filhos se encontrassem com a Mãe. A graça é a mesma. A fé é respondida e correspondida em qualquer lugar. Gostaríamos que fosse lá (no santuário). Não foi possível. Então, fizemos aquilo que é possível O povo é tão devoto que, se não é no santuário, é aqui. Está aqui. Foi uma demonstração de fé muito bonita. A devoção é muito grande e não queríamos deixar apagado esse dia, de forma alguma, dia da padroeira do Brasil, de Nossa Senhora Aparecida. E o povo soube entender que é um momento de solidariedade, conosco e com os de fora; há tanta gente sofrendo…”, dizia o pároco da Paróquia São Sebastião e reitor do Santuário, padre Nelson Bueno da Silva.
De acordo com o padre, a preocupação era a questão espiritual, sobretudo. “O material a gente vê depois. Acaba sendo consequência do espiritual. Não tinha outro plano. Por questões de segurança, era difícil fazer ali (no santuário) as celebrações. Nesse momento, é a Mãe que acolhe a filha fragilizada. Fomos muito bem acolhidos pelo padre Ivan (de Campos, pároco da Catedral), desde o primeiro momento, e, a Catedral e a Diocese que estão unidas conosco; isso nos dá segurança”, afirmava padre Nelson.
A celebração teve a beleza de todos os anos. Transcorreu como se estivesse acontecendo no Santuário. Depois da entrada da equipe celebrante, o véu da padroeira se estendeu pela igreja e cobriu os devotos. A imagem da santa foi colocada no altar e lá recebeu, como sempre, a homenagem dos fiéis com botões de rosa.
Na fila das homenagens, homens, mulheres, casais, crianças… O bispo Dom Sergio Arthur Braschi lembrava que o dia era de tradicional veneração a Nossa Senhora Aparecida. “Estamos aqui na Catedral, mas é a mesma festa da padroeira, com tudo o que foi possível, e o povo respondeu, está aqui em numerosa presença para honrar a nossa padroeira. Rezamos na intenção dos que estão sofrendo não só aqui na cidade, no centro e na periferia, mas em todo o Estado. Rezar por todos: pelas famílias e pelas crianças, no seu dia, que sejam muito abençoadas pela padroeira do Brasil”, destacava o bispo.
Em sua homilia, o bispo lembrou a missão de Maria, que não ficou cuidando de si mesma, mas foi ao encontro de sua prima Isabel, grávida nas últimas de gestação. Neste mês, em que nos primeiros dias, comemoramos a Semana da Vida, o Dia do Nascituro, e vemos leis que ameaçam a vida de bebês sendo discutidas, queremos fazer essa homenagem a Maria e a Isabel, as duas grávidas. Hoje, também temos essa intenção.
Uma atitude que brota espontânea, de celebrar pela primeira vez na Catedral, na casa da mãe da Virgem. Nesse momento de sofrimento também na terra de Jesus, com a guerra, do que mais de 200 mil pessoas já fugiram. Quantas filhas lá buscaram abrigo no colo de suas mães. Como aqui: a avó acolhe a filha em sua casa centenária. “A Virgem Santíssima também intercede por seus filhos, como fez Ester pelo seu povo, na Primeira Leitura de hoje. Uma Mãe que intercede nos momentos de cataclismas. No Brasil, desde 1717, com o milagre no Rio Paraíba”, ressaltou Dom Sergio, citando a história do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida pelos três pescadores.
A celebração desta quinta-feira teve a participação do bispo emérito de Taubaté (SP), Dom Carmo João Rhoden, presidente da Associação Bom Jesus, entidade beneficente, filantrópica e religiosa, pertencente à Congregação das Irmãs Servas de Maria Imaculada, que administra o Hospital do Coração Bom Jesus, em Ponta Grossa, e o Hospital Sagrado Coração, de Prudentópolis. “Nossa Senhora é a mãe de Cristo e devemos colocá-la sempre dentro de toda a história da salvação. Ela foi tão importante que foi Deus Pai que a escolheu para ser a mãe do filho feito homem sob a ação do Espírito Santo. É a mãe da Igreja. Por isso também foi muito estimada pelos que colonizaram o Brasil e a América Latina. Basta olharmos para o México, que tem Nossa Senhora de Guadalupe como padroeira desde 1530. Por isso, nós nos sentimos muito felizes por poder chamá-la de ‘mãe’. Aliás, na cruz, Cristo disse a João Evangelista: ‘eis aí sua mãe’. O João sou eu, o João é tu, somos todos nós. Hoje é um dia de alegria, de festa”, resumiu o bispo convidado.
Temporal
Os estragos provocados pelo temporal da madrugada do dia 12 ainda estão sendo contabilizados. Os fortes ventos derrubaram a cruz e parte da torre de cima da igreja. A real situação da estrutura segue sendo avaliada e os reparos possíveis estão ocorrendo. Ontem, na celebração, padre Nelson pediu apoio e ajuda em oração e, quem puder, financeira. A forma como essa ajuda poderá ser efetiva ainda está sendo estudada. Nesta sexta-feira São Sebastião continua fechada. Amanhã, sábado, e domingo, as atividades devem voltar ao normal, com missas às 19 horas (sábado) e 7, 10 e 19 horas no domingo.
Dom Sergio lamentou a situação ocorrida neste feriado. “Com os fatos dessa noite, com o vendaval, com muitas famílias tendo falta de energia, falta de água e dificuldade de deslocamento, e, também no Santuário, que teve esse prejuízo na cruz e na torre, o que poderia oferecer um risco para as pessoas, foi acertada essa decisão tomada pelos padres, juntamente com a Coordenação da Ação Evangelizadora de transferir a Missa Solene para a Catedral”, garantiu o bispo, que estava, incomunicável, no interior da Paróquia São Francisco a manhã toda e só soube da transferência no início da tarde.