Coluna

Nabo roxo, por Renata Regis Florisbelo

A moça tinha ar mais sério do que os demais. Compenetrada, sempre fazia perguntas interessantes e a mim também interessava conhecer de onde vinha aquela simpatia elegante de moça bem-educada. Jamais falaria palavrões e ria com peculiar charme. No auditório, cruzava as pernas com graça e charme de mocinha interiorana.

Conversas depois das aulas e o falatório para garantir o quão cada um entendeu do assunto. Os sorrisos leves e a oportunidade de conhecer suas origens, sua terra natal. Nos finais de semana, ela abandonava as roupas comuns e ousava preencher vestidos justos que valorizavam a forma. Silhueta elegante, e ela franzia o nariz para os doces. Depois de uma caipirinha com adoçante, deixou escapar, por entre sólidas sobras dos cubos de gelo, que fora gordinha na infância e a mãe a censurava nas comidas:

 

– Minha filha, não coma nabo roxo, pois tem calorias.

Pobre beterraba, apesar do deslumbrante tom de pele, em sua veste vegetal, não tinha a mesma elegância esbelta da moça que queria distância dela.

 

 

Autoria: Renata Regis Florisbelo


Renata Regis Florisbelo

Renata Regis Florisbelo

É escritora, autora de 16 livros (o 17º já esta em trabalho de parto) e catalisadora cultural. Divulga poemas curtos, diariamente, nas redes sociais desde 2014. Tem mais de 690 textos publicados nos veículos de comunicação dos Campos Gerais, incluindo os vídeos com leituras interpretativas autorais produzidos para o BNT. É integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais, do Centro Cultural Professor Faris Michaele (atual presidente), da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes, do Centro de Letras do Paraná e patronesse da Academia de Letras do Centro do Paraná. Encontra na arte seu nicho por onde desvelar seu melhor olhar para o mundo.

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