“Vocês são anjos na Terra”. A frase veio de uma pessoa em situação de rua, atendida neste domingo (05), no projeto Médicos de Rua. A Praça Barão do Rio Branco, espaço arborizado no Centro de Ponta Grossa, ganhou mesas, tendas e uma movimentação intensa de voluntários vestindo coletes coloridos.
A manhã ensolarada de domingo já reunia algumas dezenas de pessoas em situação de rua – cena comum no local. A área do projeto foi cercada, formando um grande circuito de serviços; no início, um voluntário (chamado de “anjo”) apadrinha a pessoa que chega e a acompanha até passar por todos os atendimentos e serviços. Alunos e professores de todos os cursos da área da Saúde, de Direito e de Serviço Social da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), juntamente com voluntários da ONG Médicos de Rua, fornecem alimentação, serviços de saúde, higiene, atendimento jurídico e social, cortes de cabelo e doação de materiais e roupas.
“O número de atendimentos também superou a expectativa”, avalia Ana Paula. Antes da pandemia, a média de atendimentos era de 132 pessoas por ação (foram 527 atendimentos em 4 grandes eventos entre junho de 2019 e março de 2020). “
Portanto, a procura de 93 pessoas pelos nossos serviços, após ficarmos ausentes por um ano e nove meses, foi muito satisfatória”. [RELACIONADAS]
As atividades no dia da ação são variadas: desde os setores da saúde (veterinária, enfermagem, medicina, farmácia, análises clínicas, odontologia, psicologia), passando pela orientação jurídica, até as atividades de caráter social (refeições, doações de roupa e de material de higiene, corte de cabelo e a parceria com o carro do banho, do Serviço de Obras Sociais do município). “Às 13h são encerradas as atividades na praça, mas o trabalho continua! É necessário organizar os materiais, transportar, limpar, guardar. E os analistas clínicos vão ao laboratório para o processamento dos exames coletados”, conta a professora.
A médica Gabriela Benassi participou do projeto em 2019, como acadêmica, e agora contribui como médica voluntária.
“O projeto foi de suma importância para a minha formação, pois contribuiu para a fixação de conteúdos teórico-práticos, como análise de sinais e sintomas, diagnóstico de doenças e os seus respectivos tratamentos, e também em relação aos projetos sociais, medicamentos gratuitos, onde o paciente pode se abrigar, procurar ajuda, fazer exames de forma gratuita”, destaca.
Além disso, para Gabriela, o projeto ressalta a importância do trabalho multiprofissional.
Uma realidade que muitas vezes passa despercebida: é o contato direto com a realidade das pessoas em vulnerabilidade social que modifica a forma de ver o mundo, para os voluntários do projeto. Antes acadêmica de Farmácia e hoje cursando Serviço Social, Karoline Costa traz consigo uma nova experiência a cada ação do projeto. “Ter a possibilidade de criar um vínculo com essas pessoas é de extrema importância para a formação, pois é dessa forma que conseguimos enxergar a realidade vivida e assim garantir os direitos sociais dessas pessoas”.
Projeto
“O projeto Médicos de Rua é um dos braços da ONG Médicos do Mundo”, conta a professora Ana Paula. Através de uma parceria entre a UEPG, Fundação Municipal de Saúde (FMS) e a ONG, o projeto realiza desde junho de 2019 atividades na região central de Ponta Grossa. Em março de 2020, foi preciso fazer uma pausa, por conta da pandemia de Covid-19, e o projeto retomou agora com restrições de número de pessoas, mas com vontade redobrada de ajudar. “Estamos fazendo com uma equipe bastante reduzida, tivemos que recrutar alunos e selecionar através de sorteio, justamente porque não podemos ter a aglomeração de pessoas”, conta a professora Fabiana Postiglioni Mansani, diretora do Setor de Ciências Biológicas e da Saúde da UEPG.
O principal objetivo do projeto é atender às pessoas em situação de rua;
“e o objetivo secundário é despertar nos jovens esse olhar cuidadoso para as adversidades sociais”, relata Ana Paula. Através de ações multiprofissionais, os voluntários buscam levar saúde, orientações e bem-estar ao público atendido.