Na Concha Acústica, região central de Ponta Grossa, é preservado um importante patrimônio cultural da cidade – o artesanato em palha de milho. Ali, na Casa do Artesão, sete mulheres são responsáveis por preservar dois séculos da história e da simbologia ponta-grossense por meio da arte.
Mais do que história, é empreendedorismo: o artesanato é renda a essas mulheres, integrantes da Experiência Turística promovida pelo Sebrae Paraná, que leva seus produtos e saberes a visitantes do Brasil inteiro.
Uma das artesãs é Vanderli Santos, ex-comerciante em que o artesanato percorre sua linha do tempo desde a infância. Mas é no início dos anos 2000, ao conhecer a Casa do Artesão, que a palha entra em sua vida.
“Sempre trabalhei com artesanato desde os cinco anos de idade, sempre trabalhamos bastante com sementes e outros materiais. Mas foi através delas que tive esse contato, quando vim visitar uma vez e gostei”, diz a artesã. Hoje, já são mais de 20 anos apenas com esse tipo de técnica.
É um trabalho cuidadoso: da palha e do pinhão, nasce a tradicional gralha-azul, ave símbolo da cidade. Também é feita a Corina Portugal, referência de devoção à comunidade ponta-grossense, sem esquecer do Espírito Santo e outros produtos.
A técnica é reconhecida pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac) como bem imaterial de Ponta Grossa. Uma sessão pública de salvaguarda em agosto de 2022, incluiu o artesanato nessa lista, juntamente com a banda Lyra dos Campos e a Devoção pelo túmulo da Corina Portugal.
Renda e parcerias
Com a organização destas artesãs, a perspectiva empreendedora acendeu. Além da preservação histórica, o artesanato de palha também se tornou uma renda extra para ajudar em casa no fim do mês.
“Ele é um complemento de renda. O que a gente tem buscado é que ele seja visto de verdade, um trabalho de verdade, para a gente viver só disso. Mas por enquanto ainda não chegamos lá, a gente está correndo atrás”, conta Vanderli.
Com a parceria da Experiência Turística Sebrae, as artesãs passaram a receber visitantes por meio de atividades imersivas, como oficinas de tranças e cestarias, rodas de conversa sobre a história das peças produzidas, degustação e compra de produtos. O objetivo da parceria é conectar quem produz e quem consome. A iniciativa foi firmada com apoio do Sebrae, Prefeitura de Ponta Grossa e de guias locais.
Marllucy Meire, presidente da Casa do Artesão, comenta a reação das pessoas que participam desses momentos de interação. “O público que mais encanta são as crianças. Geralmente é a idade que está aprendendo na escola, então aprende a lenda da Gralha, a lenda da Pombinha, então quando vêem ali, representado o que aprenderam por livro ou por contação da professora, ficam realmente empolgados”.
O diferencial do projeto das artesãs é a bioeconomia. A matéria-prima utilizada para a produção do artesanato é inteiramente natural e sustentável. O uso inteligente de recursos naturais representa um ponto positivo para o meio ambiente e converge com a discussão de encontrar soluções sustentáveis a ser pautada na COP-30, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro deste ano.

Empreendedorismo que inspira
A Casa do Artesão é um exemplo de empreendedorismo coletivo. As artesãs aprenderam a precificar, atender clientes, produzir conteúdos de divulgação para redes sociais e participar de feiras nacionais, com apoio do Sebrae, é claro. O objetivo agora é continuar a expansão da iniciativa e inovar.
“Agora, a gente está em uma pegada de acessórios, então através da palha de milho, as meninas estão criando joias. Fiquem aguardando que as joias vão chegar com tudo”, explica Marllucy Meire.
Ao unir cultura, empreendedorismo, turismo e sustentabilidade, as artesãs trançam o futuro para que a tradição ponta-grossense permaneça viva de geração em geração. E tudo isso acontece por conta de uma matéria-prima fundamental: o amor.
“Para mim é tudo. Não me vejo fazendo outra coisa. Se você está fazendo alguma coisa só por fazer não tem lógica, não tem nada que te alavanque, que te faça ir em frente então é amor mesmo, não tem outra palavra”, destaca.
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