Escondi meu amor. Penso que não é bom revelar um amor. Penso que é coisa de se trancafiar no cofre, numa porção falsa da estante, no tanque junto a serpentes peçonhentas. Poderia ter contato para tantas pessoas, porém, se era segredo de verdade jamais poderia ser revelado.
Como um gênio numa garrafa. Tal qual o sanduíche no guardanapo xadrez no fundo da lancheira. Sim, eu escondi meu amor de mim, pois doíam as ausências, as bocas fechadas, os desacertos como tiros de arma de fogo a cravejar o corpo de balas. Nunca tive cachorro, mas aquele canil abandonado serviu de covil para não revelar o meu amor.
Eu lhe tratei com água, não deixei morrer à míngua, mas só lhe ofereci plantas amassadas, extratos que não se poderia comer. Tratei meu amor como algo que entra pelos poros da pele e cura feridas. Quase já não pedia mais água e nem reparei que havia parado no tempo e me cristalizado como uma sempre-viva.
Percebi que escondi meu amor até de mim.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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