Lá ia o guri carregado na bicicleta. Às vezes seguia apenas um condutor solitário. Quando havia o pequeno passageiro, entrava em cena a primitiva cadeira portátil a ser acoplada junto ao guidão. Décadas atrás ela vigorada absoluta, passado tanto tempo, reaparece inusitada com seus ganchos de ferro para fixação, acento duro na madeira seca.
Nem sei que criança ainda se acostumaria com tamanha rusticidade. Talvez somente os pequenos de um vilarejo onde o tempo pouco modificou a paisagem, onde campos bucólicos ainda são vistos com animais pastando. Não há muitas pessoas, não vive gente estressada a correr para alcançar sei lá o quê.
Há apenas um homem que transita sem pressa na paisagem que parou no tempo e carrega o guri na cadeirinha antiga de levar criança na bicicleta. O homem pedala, não tem pressa, o guri olha, não tem pressa, eu observo, não quero ter pressa… Recordo quando também andava em igual cadeirinha e a sensação é de que uma vida inteira ela continha.
Autoria: Renata Regis Florisbelo