O carro cheio de sacolas após um final de semana de compras em Curitiba. A loja do bairro que fechou as portas após anos de atividade. A busca frustrada por um produto específico que só se encontra em outras cidades. Cenas como essas fazem parte do cotidiano de muitos ponta-grossenses e revelam um paradoxo: enquanto o comércio movimenta R$ 4,2 bilhões por ano na cidade, cerca de R$ 300 milhões escapam para outros municípios. Esse vazamento de consumo é apenas um dos desafios que o Masterplan 2043 pretende enfrentar para revitalizar o setor comercial local.
As perspectivas, desafios e oportunidades do comércio em Ponta Grossa para os próximos anos é o tema desta matéria que integra a série que o Portal BnT faz sobre o Masterplan e o futuro de Ponta Grossa.
O retrato atual: força e fragilidades
O comércio e serviços representam impressionantes 75% do PIB de Ponta Grossa, empregando 70% da mão de obra formal. No entanto, essa aparente força esconde vulnerabilidades estruturais. A predominância de micro e pequenas empresas (85% dos estabelecimentos) e a alta informalidade (30% do setor) criam um cenário de baixa produtividade e limitada capacidade de investimento. Enquanto isso, apenas 15 grandes redes varejistas estão presentes na cidade – número bem abaixo do observado em Londrina (42) ou Maringá (38).
O centro da cidade, outrora coração pulsante do comércio local, perde espaço para shoppings e polos periféricos, enquanto enfrenta problemas crônicos de infraestrutura, segurança e estacionamento. A concentração geográfica do comércio em apenas três regiões (Centro, Uvaranas e Oficinas) deixa vastas áreas da cidade desassistidas, criando verdadeiros “desertos comerciais” em bairros como o Contorno. Paralelamente, a ascensão do e-commerce tira fatias significativas do mercado tradicional – setores como eletrônicos e móveis já registraram queda de 15% nas vendas físicas desde 2020.
Márcio Pauliki, CEO do Grupo MM, se faz valer da experiência vivida com a cadeia de lojas para entender a “geografia do consumo” na cidade e perceber como ela é diferente do que ocorre em outros centros. “Ponta Grossa tem uma vocação para um comércio descentralizado. Aqui eu tenho dez lojas porque em Ponta Grossa tem no mínimo dez regiões onde o comércio é forte”, analisa o empresário.
Para o titular da câmara técnica de comércio do Masterplan 2043 e MBA em Gestão de Empresas, Alexandre Garcia Taques Fonseca, a cidade precisa expandir a atuação do comércio, pois há um grande público com poder de compra que não é contemplado hoje. “Ponta Grossa hoje com seus mais de 360 mil habitantes, não pode somente desenvolver o comércio no centro da cidade, e é um erro pensar que para Ponta Grossa fortalecer o comércio nos bairros vai enfraquecer o comércio do centro, e vice-versa. Ponta Grossa tem que se preocupar em desenvolver os dois ambientes”, analisa.
Potencial de consumo em diferentes pontos da cidade os dados do Masterplan comprovam que há. “O fato de ter um comércio forte nos bairros, com lojas, supermercados e farmácias e todos os outros tipos de serviços, agregam valor à vida cotidiana e reduzem deslocamentos, gerando conforto e fortalecendo economias locais, e não atrapalha o comércio do centro da cidade. Ponta Grossa tem espaço para os dois, o desenvolvimento não central de uma cidade é uma melhor garantia da valorização de todos os pontos da cidade, e facilita seu crescimento e fomento de empreendimentos”, explica.
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Os desafios da modernização
A transição para o comércio digital encontra barreiras concretas: apenas 25% dos estabelecimentos locais estão adequadamente digitalizados, frente a 40% em Londrina. O acesso ao crédito, essencial para essa modernização, permanece restrito – somente 12% dos pequenos comerciantes conseguem empréstimos bancários, e o programa municipal de microcrédito atende apenas 200 empresas por ano. Essa combinação de fatores explica em parte por que muitos consumidores continuam optando por fazer compras maiores em cidades vizinhas.
Alexandre explica que a internet é um caminho em volta para os comerciantes, mas a experiência de comprar em sua cidade não vai ser substituída pela tecnologia. “A internet, é uma realidade a qual não vamos conseguir fugir, porém, fomentar o comércio local, bem como trabalhar com a conscientização da importância da compra local, é nossa missão. Vários são os benefícios para o ponta-grossense em comprar na sua cidade. Comprar localmente é a garantia de ter cidade onde se possa achar empregos, poder desenvolver fornecedores locais dentro da sua comunidade, é o dinheiro circulando na sua própria região. Comprar localmente gera proximidade nas relações comerciais, é o fortalecimento do pequeno e médio empreendedor, comprar localmente valoriza os espaços urbanos da cidade”, analisa.
Para o especialista da câmara do Masterplan, uma união de esforços e projetos é fundamental para a sobrevivência do comércio nos próximos anos.
“Ações e campanhas de comércio fomentando diretamente as necessidades de compras e negócios das empresas dentro da região dos Campos Gerais são de vital importância para que uma maior aproximação entre os agentes do varejo e serviços aconteça. Iniciativas da ACIPG, CDEPG e da Secretaria de Indústria, Comércio e Qualificação Profissional estão focadas em campanhas educativas, ações de estímulo à compra consciente e aproximação entre varejo e consumidores”, detalha Alexandre.
As estratégias de revitalização
O Masterplan 2043 propõe um conjunto articulado de medidas para transformar esse cenário. A revitalização do centro comercial aparece como prioridade, com projetos de requalificação urbana que incluem melhorias em calçadas, iluminação e segurança, além de incentivos fiscais como isenção de ISS por dois anos para novas empresas que se instalarem na região. A atração de grandes redes varejistas é outra frente importante, visando não apenas aumentar a oferta de produtos como também elevar os padrões de qualidade e serviço.

Inovação e inclusão digital
Para enfrentar o desafio do e-commerce, o plano prevê a criação de um “Portal do Comércio Digital”, plataforma gratuita que permitirá a 500 pequenas lojas locais venderem online já em 2024. Paralelamente, programas de capacitação em marketing digital buscarão preparar os comerciantes para os novos tempos. A ideia não é competir com as grandes plataformas nacionais, mas sim oferecer uma alternativa viável para os negócios locais.
O potencial logístico não explorado
Um dos aspectos mais intrigantes da realidade comercial de Ponta Grossa é o contraste entre sua privilegiada posição logística – no entroncamento de importantes rodovias como a BR-376 e PR-151 – e o limitado aproveitamento desse potencial pelo comércio local. O plano estratégico busca mudar essa equação através de parcerias com o setor de transportes, que podem reduzir custos e prazos de entrega, tornando a cidade mais atrativa para centros de distribuição regionais.
O caminho à frente
As metas são ambiciosas: reter 20% do consumo que hoje escapa para outras cidades, aumentar em 30% o número de empregos formais no setor e elevar a participação do comércio digital para 40% até 2027. Para tanto, será necessário não apenas a implementação das políticas públicas previstas, mas também um engajamento ativo dos empresários locais no processo de modernização.
O desafio é complexo, mas o potencial de transformação é enorme. Como resume um trecho do próprio Masterplan: “O comércio em Ponta Grossa pode deixar de ser um gigante frágil para se tornar um verdadeiro motor de desenvolvimento – desde que saiba se reinventar”. “Ponta Grossa possui um potencial comercial extraordinário, já comprovado por indicadores econômicos robustos e por sua posição estratégica no Estado do Paraná. O fortalecimento do comércio local não é apenas uma questão econômica — é um projeto de cidade. Com liderança engajada, ações coordenadas e apoio da população, Ponta Grossa está preparada para se consolidar como o grande centro comercial dos Campos Gerais”, diz Alexandre Garcia Taques Fonseca. Nos próximos anos, veremos se a cidade conseguirá transformar esse potencial em realidade.
Podcast repercute e analisa temas da série
A série de reportagens sobre o Masterplan 2043 e o futuro de Ponta Grossa, além de textos informativos – todas as segundas-feiras (começando neste 05 de maio) – traz uma análise aprofundada sobre os temas que Ponta Grossa pensa para seu futuro. Todas as quartas-feiras, o portal BnT leva ao ar um podcast especial que repercute e analisa as informações e dados trazidos pela série.
O podcast da série “Ponta Grossa Masterplan 2043” irá trazer especialistas que debaterão os temas levantados pela reportagem e discutirão o futuro de Ponta Grossa a partir de suas análises e informações levantadas junto ao Masterplan.
“Ponta Grossa Masterplan 2043” é um projeto multiplataforma do portal BnT, com produtos em diferentes formatos, em um projeto que proporcionará ao leitor pensar o futuro de Ponta Grossa de diferentes formatos.
A série especial do BnT inclui textos, infográficos, newsletter exclusiva sobre o tema, um podcast semanal, além de toda cobertura e repercussão nas plataformas e redes sociais do BnT.
A cada semana a série “Ponta Grossa Masterplan 2043” irá trazer um tema abordado pelo Masterplan, com textos informativos, dados levantados junto ao documento do CDEPG, análises de especialistas e entrevistas com convidados.
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