Tenho uma orelha amassada. A infância tranquila, uns traumas aqui outros acolá, nada que trouxesse algum dano emocional irreversível… Até me olhar no espelho. Não quis acreditar, virei o rosto, a outra meia-face da cara conferi.
A minha orelha havia sido afetada, e foi coisa que aconteceu dentro do útero da mãe, a tal orelha amassada. Seria a genética? Cabelos que venham a meu favor, que ocultem a orelha-dobradura-origami de papel que o início dos tempos amassou.
E agora? Ei de me sentir amassada? Por conta da ponta de uma orelha? Que ironia assumir as dores de uma orelha enquanto a outra nada tem a declarar. Estão separadas, distantes por uma cara inteira de uma meia eternidade e nem poderiam ser solidárias, não fosse os olhos enxeridos a perceberem a desproporção.
Outro dia, saltou aos meus olhos a mulher usando máscara com tirante apertando e amassando sua orelha. Fiquei sem graça, envergonhada, lembrei que tenho uma orelha amassada e para sempre eu com ela e ela em mim.
Autoria: Renata Regis Florisbelo
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